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sábado, 25 de agosto de 2012

Nelson Rodrigues, jornalista aos 13 anos



Dono de obras cujos temas principais são o amor, adultério e morte, Nelson Rodrigues adentrou o mundo da escrita bastante cedo. Aos 13 anos de idade iniciou sua carreira jornalística no jornal “A Manhã”, que era do seu próprio pai. Também trabalhou em “Crítica”, outro jornal do pai, “Correio da manhã”, “O Jornal”, “Última Hora”, “Manchete Esportiva” e “Jornal do Brasil”.

No entanto, Nelson não se prendeu aos jornais, ele enriqueceu o teatro brasileiro, teve obras adaptadas para o cinema e televisão.  Além de ter participado de mesas redondas e liderado um programa de entrevistas denominado de “A Cabra Vadia”.

Algumas das obras de Nelson são: Vestido de Noiva, que revolucionou a história do teatro nacional; Engraçadinha, que foi adaptada para uma minissérie da tevê Globo; e Bonitinha, mas ordinária, que foi para o cinema estrelada por Lucélia Santos e José Wilker.

Nelson escreveu muitos contos, crônicas, romances e peças. Enfrentou a censura e conheceu a extrema pobreza na década de 1930, quando o jornal do pai foi fechado. Com certeza, Nelson Rodrigues enriqueceu bastante a nossa literatura. Mas sua história faz com que pensemos em algo que está causando discussões há algum tempo: “O diploma para jornalistas deve ser mesmo obrigatório?”. Bom, Nelson não devia ter diploma quando começou a trabalhar como repórter aos 13 anos de idade.

Confira a entrevista que Nelson Rodrigues concedeu a Otto Lara Rezende


Por Priscila Pacheco

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

De onde vem a expressão Indústria Cultural?

Max Horkheimer e Theodor Adorno

Esse termo foi criado pelos estudiosos alemães Max Horkheimer e Theodor Adorno na primeira metade do sec. XX para substituir outro, “cultura de massa”. Sua primeira ocorrência foi no livro “Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos”. Segundo os autores, “cultura de massa” induz ao erro que satisfaz aos interesses dos detentores dos veículos de comunicação, ou seja, grupos empresariais ligados a esse setor. Pois, pressupõe algo surgindo espontaneamente das próprias massas. Enquanto, na verdade, a “indústria cultural” não apenas adapta seus produtos às massas como determina seu consumo.

Logo, podemos compreendê-la como:

“...cultura massificada que é transformada em produto de consumo. É o processo pela qual hoje se controla a produção de cultura de uma região, cidade ou nação.” (Guerra, Mattos, 2008)1

“...realidade do capitalismo, que precisa do consumo ativo para estabelecer-se e manter-se.” (Guerra, Mattos, 2008)2

Contexto histórico

Com a consolidação do modo capitalista de produção no séc. XX, a Indústria Cultural utilizou do conceito de produção em série e domínio das técnicas de reprodução para exercer papel específico de portadora da ideologia dominante. Sacrificou-se assim, a distinção entre o caráter individual da obra de arte e do sistema social. Sua estrutura está ligada à fase monopolista do sistema capitalista, período em que pode atingir plena configuração.
Com isso, o domínio do homem sobre a ciência e a técnica, pensado pelos iluministas, como modo de libertação do próprio homem, contraditoriamente, torna-o vítima do progresso desse domínio. Assim, a Indústria Cultural passa a utilizar esse progresso como instrumento para conter o desenvolvimento da consciência das massas.

O sistema

“Característica marcante da indústria cultural é que suas mensagens possuem uma lógica de produção e distribuição semelhante às demais mercadorias no sistema capitalista.” (Gomes, 2004)

O processo operativo integra cada elemento. O produto oferecido com “nova fachada”, nada mais é que representação daquilo que já foi ofertado de forma diferente. Mas, continua sempre igual.  Apenas um dos exemplos para isso, são obras da literatura mundial ganhando suas versões cinematográficas para deleite de um público que, provavelmente, já conhece o final da história.

O indivíduo

A indústria cultural cria necessidades ao indivíduo que deve contentar-se com o que lhe é oferecido. Assim, é possível organizar todo um sistema de consumo em que o sujeito compreenda sua condição de objeto daquela indústria. Desse modo, instaura-se a dominação natural e ideológica, levando o sujeito à alienação.
"... a dominação economia sobre a vida social levou, na definição de toda realização humana, a uma evidente degradação do 'ser' em 'ter'."(DEBORD, 1967)3

Para onde vamos?

Ao voltarmos nossa reflexão para a área jornalística, de modo bem sucinto, verificamos que a indústria cultural auxilia o jornalismo através da manipulação das informações por parte daqueles que detêm essa informação. Que, como qualquer empresa capitalista, fabrica produtos padronizados que possam atingir a maior parte de consumidores possíveis. Como a matéria prima nesse negócio é a noticia, só é levado ao grande público aquilo que dá ibope, e por fim, gera lucro.

1. GUERRA, Marco Antônio, MATTOS, Paula de Vincenzo Fidelis Belfort. Indústria Cultural. São Paulo: Universidade São Judas Tadeu.2008.
2. GOMES, Pedro Gilberto. Tópicos de Teoria da Comunicação. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2004.
3. DEBORD, Guy. Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2007.


Capa da primeira edição de 1947. 
Editora Querido Verlag em Amsterdã.
Título: Dialektik der Aufklärung: 
Philosophische Fragmente.
Por Bruna Freesz

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Vai pra onde? O futuro do jornal impresso – Parte final




Em virtude dos questionamentos relacionados ao futuro do jornal foi realizada uma pesquisa com 62 jornalistas dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro (os dois maiores mercados jornalísticos do Brasil).  Para todos os profissionais foi feita a seguinte pergunta: “Você acha que o jornal impresso poderá ser extinto por causa do crescimento da internet”? Os 62 profissionais estão empregados em veículos pequenos, médios e grandes. As entrevistas foram realizadas pessoalmente, por telefone e e-mail.

Muitos profissionais da área expressam opiniões que lembram o tema central de Apocalípticos e Integrados, livro escrito por Umberto Eco na década de 1970. Assim, foi possível classificar as respostas em três grupos. Aqueles que estão crentes que a mídia impressa será extinta são os Apocalípticos, 10 dos que responderam a questão. Já os que acreditam que o jornal resistirá aos adventos da informática são os Integrados. Esses são maioria, pois totalizam 47 jornalistas. E há, ainda, um terceiro: os Moderados, que contam com apenas 5 respostas.

No grupo dos integrados estão presentes aqueles que acreditam na permanência do jornal mesmo com o advento da internet. Um argumento bastante utilizado por estes defensores é de que o jornal deve modificar-se.  Dentre as modificações citadas estão: a interatividade com as outras mídias, principalmente a internet; o conteúdo deve ser mais analítico e aprofundado; a distribuição do conteúdo deve passar por reajustes; a diagramação deve ser atraente.

Outros pontos defendidos pelos integrados são os de que a internet possui agilidade na veiculação das notícias, mas não apresenta profundidade na abordagem dos assuntos nem são completamente confiáveis, principalmente por causa da velocidade das publicações; as tecnologias portáteis, como tablets e smartphones ainda não estão completamente difundidas, o preço dos aparelhos é elevado assim como o acesso à internet. Já o impresso, para eles, tem poder de ser um documento muito importante com o potencial de registrar a história de uma cidade, em especial as que ficam no interior dos estados, e a informação no papel tem mais credibilidade.

Para o repórter do jornal O Dia, Geraldo Perelo, as mídias eletrônicas, em tempo real, não têm condições de oferecer uma informação mais cuidadosa e elaborada por causa do imediatismo.

“É comum a “barrigada” (informações erradas, não checadas) em portais de informação, em tempo real, exatamente pela falta de tempo para apuração dos fatos. O jeito é fazer as correções necessárias, de tempo em tempo, para ir situando o internauta, o expectador ou o telespectador, aos poucos. O jornal, por sua vez, usa o tempo disponível para esmiuçar (investigar, analisar) repercutir, desdobrar, incrementar, ilustrar (com fotos, infografia etc) a informação, de forma a dar melhor subsídios à formação de opinião. O leitor do jornal não quer mais saber que o prédio desabou; isto, ele já tomou conhecimento pela internet, rádio e televisão. Ele vai comprar o jornal no dia seguinte para saber, “por quê?”– a obra foi mal feita, faltou fiscalização da prefeitura etc, informação que geralmente resulta de um trabalho mais detalhado, repito, mais investigado.”, diz Geraldo.

Já o jornalista do O Estado de São Paulo, Roberto Godoy, pensa que os jornais impressos terão vida longa e próspera, mas terão de ser mais inteligentes e possuir diferenciais em relação às plataformas eletrônicas. “Circulação menor, preço maior, conteúdo analítico, feito por profissionais de elevada capacidade para atender a demanda de leitores qualificados – essa é a fórmula.”, afirma Roberto Godoy.

O jornalista da Folha de São Paulo, Cristiano Cipriano Pombo, acredita que sempre haverá adeptos do papel e que o jornalista atual precisa estar preparado para trabalhar nos dois campos. Cristiano também aponta que a Folha de São Paulo produz o Projeto Gráfico, que apresenta produtos novos para o jornal com o intuito de atrair o leitor. Por exemplo, hoje a Folha está mais colorida e com letras maiores.

Um dos expoentes do grupo dos Moderados é o editor assistente de O Estado de São Paulo, Ivan Marsaglia, que argumenta que não é a internet que ameaça a existência do jornal impresso. Segundo ele, “... é preciso aguardar para ver”.

O grupo dos apocalípticos também não integrou muitos adeptos. Os poucos, 10 jornalistas, que acreditam no fim do jornal usaram como argumento o crescimento da internet, em especial, o fato de esta ser um ambiente relativamente mais livre e anárquico, além da praticidade e da capacidade de seleção que o leitor possui no mundo virtual, bem como a agilidade na veiculação das notícias.

O repórter fotográfico do jornal O Globo, Marcos Alves, acredita que além da tecnologia há a questão ecológica, pois para a produção do papel usado no jornal impresso há o uso de celulose e água.

Já o repórter do O Estado de São Paulo, Carlos Lordelo, pensa que a internet não será a única responsável pela extinção do jornal impresso, pois estão surgindo equipamentos cada vez mais sofisticados e a nova geração já nasce acostumada a ler telas de computador. Além disso, o meio digital permite a utilização de podcasts, vídeos e extensas galerias de imagens, algo impossível no jornal impresso. 

O repórter e colunista da Folha de São Paulo, Rodrigo Bueno, argumenta que o jornal em papel ocupa mais espaço físico, é relativamente caro, tem alcance e tamanhos limitados e não é um produto dos mais ecologicamente corretos. Podendo um dia acabar se continuar da maneira como é visto hoje.

* O conteúdo desse post e dos três anteriores foi apresentado no congresso nacional da Intercom, em Recife, no ano de 2011.



Por Priscila Pacheco