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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A riqueza cinematográfica de Israel

Footnote

   Ao contrário do que pode parecer para muita gente o Oriente Médio não é um lugar que vive apenas de conflitos. Ele apresenta uma riqueza cultural imensa, principalmente no cinema que rompeu fronteiras e aparece nas telas de diversos festivais internacionais. Um desses países é Israel, que teve sua produção cinematográfica iniciada por Yaacov Ben Dov muito antes de ser um Estado.

   Os filmes israelenses abordam a relação entre judeus e árabes, a Guerra do Líbano da década de 1980 e também questões cotidianas como, amores, conflitos familiares e homossexualidade. Footnote (Hearat Shulayim), de Joseph Cedar, é um exemplo de problemas em famílias, pois mostra a rivalidade entre pai e filho. Já “The Bubble”, de Eytan Fox, apresenta a relação homossexual entre um homem israelense e um palestino.

Trailer do filme Footnote


   Os temas destacados prendem a atenção do público e atraem prestígio entre os cinéfilos de plantão. Segundo o produtor e executivo, Yoram Globus, “uma vez que deixaram de fazer exclusivamente filmes sobre o conflito árabe-israelense, o mundo começou a assisti-los”. Mas além dos temas outro fator que beneficia a ascensão da indústria cinematográfica israelense é a alta tecnologia, porque ela traz baixos custos e aceleram a produção do filme.

Por Priscila Pacheco



terça-feira, 20 de novembro de 2012

O poder do cinema nas mãos dos nazistas

O Triunfo da Vontade


   O cinema foi uma arma poderosa nas mãos de Hitler para a difusão da propaganda nazista. Um exemplo é o documentário “O triunfo da Vontade”, que já foi citado num post que publiquei há algum tempo. A produção mostra o congresso do partido Nazista, que aconteceu em Nuremberg, Alemanha. E apresenta Hitler como uma pessoa fascinante, o verdadeiro messias que veio ao mundo para salvar os arianos das impurezas mundanas. Impurezas representadas pelos judeus, ciganos, homossexuais, comunistas e deficientes. O documentário foi feito pela cineasta Leni Riefenstahl, mulher que ficou marcada por essa relação com os nazistas.

   Outra figura marcante do cinema de Hitler é Veit Harlan. Considerado o maior cineasta nazista Veit Foi julgado duas vezes por crimes contra a humanidade devido a suas produções antissemitas. Responsável pelo filme The Jew Süss, Veit propagou o culto nazista. Para uma de suas netas The Jew Süss é um chamado para a perseguição dos judeus.

   O documentário Harlan – À Sombra do Judeu Süss, transmitido na madrugada dessa terça-feira na TV Cultura, mostra bem a carreira desse homem no regime totalitário, assim como apresenta o que pensa os seus descendentes que ainda vivem à sombra das ações dele. O filme também nos faz refletir sobre o poder que o cinema possui para alienar a mente das pessoas.

   Fritz Hippler também deixou sua marca nas produções cinematográficas do III Reich. Um dos seus trabalhos mais famosos chama-se O eterno Judeu, produzido a pedido de Joseph Goebbels, responsável pelo Ministério da Propaganda. O eterno Judeu mancha a imagem dos judeus poloneses, faz acusações, menospreza esse povo os colocando como seres perversos na história. Com o poder que tinha no ministério, Joseph Goebbels aproveitou bastante as vantagens do cinema para a difusão dos ideais nazistas e a idolatria de Hitler. Enfim, Hitler sabia qual era o potencial do cinema. Agora imagine se naquela época já existisse televisão? 

Por Priscila Pacheco


domingo, 11 de novembro de 2012

Eis a nossa América Latina



Antes da dominação europeia, a América era habitada por civilizações que tinham um organizado sistema político, econômico e social. Os Astecas localizados no atual sul dos EUA e Norte do México; Maias, no sudeste do México e grande parte da América Central; e Incas, no Altiplano Andino.

Os Astecas possuíam um império teocrático militar, sociedade estamental e economia baseada no modo de produção asiático. Usavam como moeda o cacau e a religião era politeísta, animista e zoomórfica, com sacrifícios humanos para acalmar os deuses e garantir boas colheitas. Culturalmente deixaram importantes conhecimentos de engenharia, arquitetura, astrologia, arte plumária, matemática, ourivesaria e astronomia.

Os Maias também tinham sociedade estamental, religião politeísta, animista e zoomorfista com sacrifícios humanos e usavam cacau como moeda. Uma das grandes contribuições que deixaram foi a descoberta do número zero. Já os Incas possuíam uma sociedade hierarquizada e formavam uma das civilizações mais complexas e poderosas da História.

A chegada dos espanhóis modificou todas essas estruturas. Eles destruíram muitas obras importantes das civilizações existentes, dividiram a região em vice-reinos para ter maior controle, escravizaram e dizimaram os indígenas, e exploraram as riquezas. A colonização espanhola foi a responsável pela dependência econômica, ascensão dos latifúndios, monocultura e desigualdade social de grande parte da América Latina. Essa colonização teve início em 1492 e perdurou até meados do século XIX, quando começaram os movimentos de independência.  No entanto, mesmo independente a América Latina nunca se livrou das marcas da exploração. 

Em meio aos conflitos pela independência surgiu a Doutrina Monroe, aprovada pelo Congresso norte-americano em 1823. Com o lema “A América para os Americanos”, a Doutrina defendia que o continente americano não poderia ser recolonizado e que os países europeus não deveriam intervir nos negócios da América. Dessa forma, os EUA também não interveriam nos negócios pertinentes aos países europeus.

No século XX o expansionismo dos EUA se aprofundou na América. O comércio, as grandes empresas multinacionais, o fluxo de capital e as influências culturais adentraram os países latino americanos sem a ideia de partir. Em 1946 o Departamento de Defesa americano instituiu a Escola das Américas. Tal escola ensinava em seus treinamentos métodos para forçar confissões, torturas e atemorização psicológica. Milhares de oficiais das forças armadas e das polícias da América Latina passaram por essas aulas. E assim, surge a ideia de segurança nacional.

Já em 1947 os EUA criaram o Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca, o TIAR, com a intenção de fazer o rompimento diplomático entre América Latina e URSS. E em 1948 ocorreu a fundação da Organização dos Estados Americanos, a OEA.

Cuba é um importante exemplo de dominação norte-americana, pois ao tornar-se independente da Espanha, em 1898, permaneceu sob tutela dos EUA. O país possuía uma instituição política bastante instável, o que facilitou o golpe de Estado comandado por Fulgêncio Batista, às vésperas de uma eleição presidencial, em 1952. O poder de Fulgêncio não agradou certos integrantes da população cubana. E assim, surge um movimento armado contra a ditadura, que era liderado pelo advogado Fidel Castro. Em 26 de julho de 1953, Fidel comanda um ataque ao quartel mais importante do país, La Moncada. No entanto, o ataque fracassou e Fidel foi preso, mas em 1955 Fulgêncio anistiou vários presos, entre eles, Fidel.

Em liberdade Fidel exilou-se no México e com pessoas que tinham os mesmos planos começou a preparar uma nova luta contra a ditadura. Retornou a Cuba em 1956 num barco carregado de armas para iniciar o confronto militar. Todavia, fracassou novamente. E junto com alguns sobreviventes do combate, entre eles, o seu irmão Raúl e o médico argentino, Ernesto “Che” Guevara, foi para a Sierra Maestra e começou a guerrilha. O movimento cresceu, ganhou forças e apoio popular conseguindo, em 1959, entrar em Havana após a queda de Fulgêncio.

Manuel Urritia Manzano assumiu a presidência, Fidel tornou-se primeiro ministro e alguns de seus companheiros também ocuparam cargos ministeriais. O fuzilamento dos “inimigos” da revolução; as reformas urbanas, como o decrescimento dos preços dos aluguéis, livros escolares e tarifas de eletricidade; e a reforma agrária; Desagradaram os moderados de Cuba e o governo dos EUA.

Os EUA começaram a pressionar Cuba economicamente e cortaram fornecimentos, entre eles o de petróleo. Em 1960 Cuba começa a importar petróleo da URSS, mas as refinarias se recusaram a refinar o produto, pois eram de propriedade norte-americana e britânica. Essa ação fez com que Cuba nacionalizasse as refinarias, e em contrapartida os EUA suspenderam a compra de açúcar cubano. Em 1961 John Kennedy autorizou a invasão militar do país pelos exilados cubanos treinados por militares norte-americanos.

Já em 1962 aconteceu a famosa “Crise dos Mísseis”, em que Kennedy bloqueou Cuba, ameaçando invadi-la alegando que os soviéticos haviam instalados mísseis nucleares na ilha. No entanto, um acordo entre os EUA e a URSS determinou a retirada dos tais mísseis. Esse acordo não mudou o bloqueio econômico e político de Cuba decretado pelos EUA. Fidel esteve no comando do país por muitas décadas até passar o posto para o irmão Raul. Atualmente Cuba aparece bastante na mídia principalmente por causa das notícias de presos políticos, saúde de Fidel e reformas. Em relação às reformas parece que Cuba não passará por grandes mudanças enquanto Fidel estiver vivo, afinal, ele deve ter influências sob o comando do irmão.

Na década de 1960 os EUA puseram em prática a Aliança para o Progresso. Eles argumentavam que a Aliança tinha o intuito de ajudar a acelerar o desenvolvimento econômico dos países latinos. Assim, concederam ajuda financeira, realizaram reformas sem alterar a estrutura econômica, implantaram o neoliberalismo e nessa “bondade” patrocinaram golpes militares.

Um desses patrocínios pode ser visto no Chile, pois em 1970, Salvador Allende, integrante da Unidade Popular, assume a presidência do país. Em seu governo Allende nacionalizou as minas de cobre e as telecomunicações, estatizou o sistema bancário, as indústrias têxteis e siderúrgicas. Também iniciou a reforma agrária e a liquidação de monopólios estrangeiros. 

Essas medidas desagradaram o empresariado, que começou a reduzir os investimentos no Chile causando queda nas produções e crescimento da inflação. Os EUA também não estavam satisfeitos com a as mudanças, e começaram a financiar a oposição, afinal elas eram medidas socialistas. Também suspenderam totalmente os empréstimos, depreciaram internacionalmente o preço do cobre e apoiaram o golpe das Forças armadas comandadas por Augusto Pinochet, que aconteceu no dia 11 de setembro de 1973. Após o golpe os EUA continuaram apoiando Pinochet, e há informações que o Tio Sam manteve operações secretas da CIA no Chile entre 1962 e 1975. As operações tinham a função de impedir a eleição de Allende, desestabilização do governo e assassinato de chilenos apoiadores de Allende. E claro, apoiar o golpe e a ditadura de Pinochet.

A América Latina também foi dominada por governos populistas, isso logo na primeira metade do século XX, que eram compostos por líderes carismáticos que tentavam agradar tanto o povo quanto quem tinha poder. O populismo promoveu o crescimento da industrialização e o enfraquecimento das oligarquias, como aconteceu no Brasil na época de Getúlio Vargas, mas em compensação promoveu uma ideologia que transformava o povo em massa. Essa questão é um pouco longa, logo, merece um post especial.

Enfim, eis a nossa América Latina.

Por Priscila Pacheco

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A Rosa do Povo - O "Áporo", sonetilho denso


   

   A Rosa do Povo foi escrita numa época marcada pela Segunda Guerra Mundial e pela ditadura do presidente Getúlio Vargas. E é uma das obras com maior expressão do lirismo drummondiano e modernista. Nela está presente um dos meus poemas prediletos de Carlos Drummond de Andrade, o "Áporo".

ÁPORO
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.
Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?
Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:
em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.

   Áporo, palavra formada com os elementos gregos a-(prefixo negativo) e poros ("passagem", "saída"), pode ter três significados, são eles: "uma espécie de inseto cavador", "um termo usado para designar um problema sem solução, situação sem saída" e " um certo tipo de orquídea".

   Analisando o contexto histórico que Drummond presenciou durante a década de 1930 e de 1940, e complementando com os significados da palavra áporo podemos verificar que o poema relata a história de um inseto cavador que, numa situação sem saída, se transforma numa orquídea. Mas o que há escondido neste jogo de palavras? Quem é o áporo inseto? O que é a orquídea? Quem é o eu-lírico?

   Podemos analisar cada "pedacinho" desse sonetilho e chegarmos a diversas interpretações. Eu mesma cheguei a várias, mas a que mais me convenceu foi a seguinte:

   O inseto está sufocado, angustiado, e desejando fugir de um lugar que o aprisiona, e ele sabe que precisa tentar esta fuga discretamente para que ninguém o impeça de encontrar a liberdade. Portanto, o eu-lírico pode ser o Áporo inseto, porque ele também está sufocado e angustiado, por isso ele cava a poesia. O eu-lírico procura libertação através do trabalho poético, pois por meio dele pode-se encontrar uma maneira de denunciar e fugir das atrocidades da época.

   A maneira com que a linguagem é manipulada mostra a dificuldade da fuga.

"Um eu-lírico escreve
escreve sem alarme
perfurando a poesia
sem achar escape."

   A escrita é uma maneira de alguém gritar silenciosamente entre tanta repressão. Poderíamos comparar a complexidade da escrita com a complexidade do momento vivido pelo poeta.

   E o Áporo orquídea? Para mim a orquídea é o símbolo da esperança que desabrocha.

Por Priscila Pacheco

domingo, 4 de novembro de 2012

Sete faces? Para Drummond, isso é pouco!



Quando se lê alguma matéria sobre Carlos Drummond de Andrade, o desavisado deve pensar que não há mais o quê conhecer sobre ele por já ter visto tudo que foi dito, escrito ou pesquisado, afinal ele é um dos poetas da literatura brasileira mais lido, estudado e conhecido no Brasil e mundo afora. Pois então, os mais atentos puderam observar que a Festa Literária Internacional de Paraty não havia, ainda, prestado verdadeira homenagem à Drummond. 

E aqui cabe a pergunta, por quê? Simples, não havia o quê dizer. Resposta errada, pelo menos para aqueles cuja ausência do autor mineiro era sentida e vinha aumentando desde a primeira edição em 2003 e que agora completa 10 anos. Tudo isso, porque, apesar de sempre ovacionado pelos leitores e críticos, o grande poeta ainda tem muito a dizer e nos oferece muito o que se discutir. 

OK! Nós perdoamos a todos! Os organizadores da FLIP, que aconteceu  dos dias 4 a 8 de julho, esperaram este ano para ceder em sua programação um vasto espaço de homenagem a esse senhor, que se estivesse vivo completaria, em 31 de outubro de 2012, 110 anos de vida. Justamente, desde o início desse ano, uma série de eventos e lançamentos vem celebrando essa data. 

 
Um deles é o lançamento do livro inédito "Os 25 Poemas da Triste Alegria" da editora Cosac Naïf. Uma “edição comentada”, não apenas pelo próprio Drummond, mas também, por seu amigo e escritor Mario de Andrade. Trata-se de textos escritos entre 1923 e 1924, ou seja, antes da publicação de Alguma Poesia de 1930, seu livro de estreia. O livro reproduz em fac-símile uma edição artesanal de 1924, com poemas datilografados por Dolores Dutra de Morais, sua futura esposa, que foram encadernados e confiados a celebres amigos, entre eles, Mario de Andrade. 

Tempos depois, esse material voltaria para as mãos de Drummond e não se teria mais notícias. O quê o leitor terá, contudo, não é só esse trabalho inaugural. Além dele, um conjunto de notas manuscritas, à margem da produção, datadas de 1937, 13 anos depois. As anotações foram feitas por um Drummond consagrado e maduro suficiente para avaliar com distanciamento crítico seus versos de juventude.

Outro evento que cobre esse ano de comemorações e aconteceu, exatamente, no dia 31 de outubro data de aniversário do poeta, foi a segunda edição do DIA D – Dia Drummond, organizado pelo Instituto Moreira Sales. A ideia surgiu no ano passado e teve a intenção de fazer com que esse dia fosse comemorado e fizesse parte do calendário cultural do país. E para isso, uma programação recheada de atividades foi pensada para os leitores fieis, apreciadores convictos e até para aqueles desavisados do início da conversa. 

Neste ano o IMS promoveu o curso gratuito “Drummond: o tempo e a poesia” ministrado pelo poeta Antonio Cícero, exibiu uma mostra de cinema com filmes da atriz sueca Greta Garbo, musa inspiradora para os poemas do autor e também lançou a edição dos “Cadernos de Literatura Brasileira” dedicada a ele acompanhado dos poetas Eucanaã Ferraz, Ferreira Gullar e o professor da FFLCH – UPS, Ivan Marques em um bate-papo aberto ao público.

E para fechar, a fotógrafa Simone Monte lança dia 9 de novembro, na galeria do cine Reserva Cultural em São Paulo, a exposição “Arrepio”. Ela misturou sua habilidade com as câmeras e sua paixão por poesia e transportou versos de Drummond para o corpo de modelos. Segundo Simone, a ideia era transcrever a palavra do papel para a pele e transmitir o arrepio que lhe causa a poesia. 

Ufa! E Para quem ainda pensa que já viu tudo sobre ele, bobagem! Sete faces é pouco, talvez 110, quem sabe infinitas?!
Por Bruna Freesz