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domingo, 30 de junho de 2013

Jornalismo livre de pesquisas em internet conta histórias mais ricas e próximas do leitor

   Margareth e Gerard McKee começaram a namorar firme. Quando iniciaram os planos para casar e Gerard começou a trabalhar na ponte, Margareth passou a controlar o dinheiro economizado do salário semanal que o noivo recebia como operário metalúrgico. No verão de 1963 já tinham juntado oitocentos dólares.

   Mas os planos mudaram de rumo numa quarta-feira, 9 de outubro. McKee, como de costume, seguiu para o trabalho na ponte Verrazano-Narrows, em Nova York. E foi nessa ponte, com tempo nublado e ventoso, que ele caiu no mar. “Alguns homens que estavam na ponte se puseram a chorar e, lentamente, todos eles, mais de seiscentos, tiraram seus capacetes e começaram a descer”, conta Gay Talese no capítulo “Morte numa ponte”, do livro Fama & Anonimato.

   Gay Talese nasceu em Ocean City, Nova Jersey, em 1932. É um repórter que não tem preguiça de sair às ruas em busca de histórias, não se preocupa com o “furo” e diz não conhecer o Google. Por que essa informação sobre o Google é importante? Porque os jornalistas estão muito presos em pesquisas oriundas da internet. Para Talese é necessário sair pelo mundo, ver os acontecimentos, conversar e conviver com as pessoas. 

   A forma de Talese trabalhar o jornalismo permitiu que ele contasse a história de Gerard McKee fazendo o leitor adentrar o mundo de centenas de homens que trabalharam na Verrazano-Narrows. Quando surge essa aproximação temos a possibilidade de refletir sobre aqueles que exercem atividades honestas pondo em risco a vida diariamente. Pessoas que passam despercebidas, que não são homenageadas na inauguração de grandes monumentos, que têm uma família e planos para o futuro. Mas que muitas vezes, inocentemente, têm a vida interrompida por um desastre.

   McKee deixou Margareth, o sindicato trabalhista local fez uma campanha para que a construtora da ponte disponibilizasse redes de segurança sob as áreas onde os homens trabalhavam e diversos desses operários também construíram as torres do World Trade Center, derrubadas em 2001 pelo ataque terrorista de 11 de setembro.

   A parte da Ponte vai muito além da morte de McKee, por isso recomendo a leitura completa do livro “Fama & Anonimato”. Talvez você não goste de Gay Talese como eu gosto, mas imagino que passará a prestar atenção em muitas coisas que antes eram praticamente inexistentes.

Por Priscila Pacheco

terça-feira, 25 de junho de 2013

Aproximação entre diferentes culturas é essencial para romper preconceitos

Festa em comemoração ao dia Mundial do Refugiado / Foto de Carolina Nakamura
   
   Acompanhar as notícias de regiões conflituosas faz parte do meu cotidiano há 4 anos, em especial as que envolvem o Oriente Médio e o Afeganistão. O interesse não está relacionado a nenhuma descendência como algumas pessoas perguntam. Simplesmente comecei a estudar sobre esses lugares e quando percebi já estava muito envolvida. Tão entremetida ao ponto de largar a vontade de conhecer Nova York e Paris para desejar ir ao Afeganistão, Irã, Israel e Líbano. 

   Surgiu o sonho de ser correspondente de guerra e de ajudar a população sofrida. Para ser sincera, hoje, não sei se serei repórter de guerra, se terei tanta coragem para levar esse plano adiante. A guerra assusta e é preciso ter muita cautela e determinação para adentrar nela. A única coisa que posso dizer agora é que não consigo me desligar dessas culturas.

   Livros, filmes, palestras, cursos e grupos de discussão sobre o tema passaram a fazer parte da minha rotina. Eles são ótimos para que não fiquemos presos ao que grandes veículos de comunicação nos mostram. Além disso, valorizo muito o contato com pessoas que são desses países ou simplesmente os conhecem bem. Penso que assim podemos quebrar preconceitos e enxergar que lugares como o Oriente Médio, por exemplo, não são antros de terroristas. 

   As pessoas de lá são “gente como a gente”. Elas se apaixonam, sonham, trabalham, estudam, sorriem, sofrem. No Líbano as garotas podem usar biquínis, “ficam” e vão a festas. O Irã tem uma população jovem imensa que adora ir ao cinema e faz festa escondida das autoridades. Enfim, há uma infinidade de coisas que eu poderia relatar para mostrar que os monstros que assustam muitos ocidentais são criação de quem gosta de generalizar e enxerga só um lado da moeda.

   Enfim, as notícias relacionadas a países conflituosos fez com que o termo “refugiado” se tornasse algo comum para mim. Pois é normal as pessoas fugirem de governos opressores, de guerras e de desastres ambientais. Mas um post publicado no blog do Atados, rede social que possibilita o encontro de vagas de voluntariado em diversas ONGs,  fez com que eu prestasse atenção nos refugiados que vêm para o Brasil e passasse a pensar um pouco mais na África. Rapidamente compartilhei o texto com um casal de amigos, Marcos e Bianca. E por coincidência ou providência o Marcos havia pensado na questão dos refugiados naquele mesmo dia. Além disso, o irmão dele começaria a dar aulas de português aos refugiados no Instituto de Reintegração do Refugiado - Adus. Começamos a conversar muito sobre o tema. Eu ligada nos 220 volts como de costume.

   Todavia, o despertar causado pelo post foi fortalecido pela festa One Love Junino. O evento realizado no dia 16 de junho pela Adus em parceria com o Atados adiantou a comemoração ao dia Mundial do Refugiado, que acontece no dia 20 de junho. Naquele momento não surgiram somente africanos. Entre eles estavam habitantes de países da América. Mas independente da localização imagino que cada um deve enfrentar empecilhos parecidos para conseguir reconstruir uma nova vida no Brasil. Empecilhos que pelo visto não conseguem derrotar a esperança. Aquela que consegui ver no olhar de muitos deles. 

   Durante as conversas eles transmitiam a empolgação em conseguir um emprego, alugar uma casa, aprender o português. Diziam que o Brasil era um país muito bom, que o racismo aqui não é tão grande e ficavam felizes quando descobriam que no Brasil nós estudamos sobre a África na escola. Esse contato confirma o que disse parágrafos acima: precisamos nos aproximar das pessoas para quebrar preconceitos e entender que independente da região temos muitas características em comum. 

   Enfim, eles sonham, trabalham, estudam, sorriem, sofrem e amam. Eles são gente como a gente. 

   Continuemos a conversa numa próxima oportunidade.


Por Priscila Pacheco

terça-feira, 18 de junho de 2013

Falta de reeducação alimentar prejudica quem deseja emagrecer

   O excesso de peso é um problema preocupante na sociedade brasileira, pois tem atingido mais gente nos últimos anos. De acordo com a última pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em 2011, o número de pessoas acima do peso no Brasil subiu de 42,7% para 48,5% entre 2006 e 2011.

   Mas não é somente o aumento de peso que deve ser considerado um agravante para a saúde pública. O estilo de vida de quem tenta emagrecer, mas tem dificuldade requer muita atenção. Afinal, é comum encontrar pessoas que dão preferência às “milagrosas” dietas pobres em nutrientes, ao consumo de medicamentos diuréticos sem acompanhamento médico ou até à ausência de alimentação.

   De acordo com a nutricionista Giovanna Mauro e Silva, os problemas mais comuns causados pelas dietas “milagrosas” são “sonolência, perda de atenção, queda de cabelos e unhas, olheiras, entre outros, chegando a anemias e distúrbios”. Giovanna também informa que “existem situações em que os remédios para emagrecer podem servir de auxiliadores, porém não substituem a mudança de hábitos. Estes casos devem ser acompanhados por médicos que dirão o tipo de remédio a ser usado”.

   A psicóloga Andréa Bossan começou a tomar medicamentos diuréticos aos 15 anos de idade. Hoje, aos 40, afirma que conseguiu ficar muito magra, mas voltou a engordar. Tenta fazer várias dietas, fica sem se alimentar por um longo tempo e se rende ao consumo de shakes. Andrea reconhece que tem dificuldade em fazer reeducação alimentar e praticar atividade física. “Só não volto a tomar remédio, porque não posso mais. Se pudesse com certeza voltaria, pois é bem mais fácil e rápido para emagrecer”.

   Para Giovanna Mauro e Silva, “as pessoas tendem a se acostumar com o que comem e o quanto comem. E mudar os hábitos é o mais difícil”. Giovanna ainda afirma que “depois que perdemos os “vícios”, a reeducação alimentar se torna menos complicada”. Já Bruna Fernanda Makiyama Albano, também nutricionista, acredita que “as principais dificuldades encontradas atualmente são a determinação de horários e a escolha dos alimentos frente à correria do dia-a-dia”.

   Quem consegue seguir uma dieta saudável reconhece que há muitos benefícios. É o caso da assistente administrativa Carmen Morales, que conseguiu perder 7 kg mantendo uma alimentação balanceada e praticando exercícios físicos. “Além de perder peso, perdi medida. Me sinto mais leve”, diz Carmen, que acredita que a determinação é essencial para conseguir atingir os objetivos. Carmen faz hidroginástica três vezes por semana e, duas vezes por semana, pratica uma mistura de pilates, yoga e alongamento. “Sinto bem estar”, complementa Carmen.

Produtos orgânicos x Reeducação alimentar

   Segundo Giovanna, os produtos orgânicos “não têm influência direta na reeducação alimentar, pois o processo de perda de peso está associado a quantidades e tipos de alimentos. O fato de ser orgânico não torna este processo mais fácil ou mais rápido, apenas mais saudável”. Bruna complementa: “devem-se considerar as condições socioeconômicas do indivíduo e, portanto, nem sempre estes alimentos são acessíveis”.

   Levando em consideração a questão econômica, quem tiver interesse em consumir esse tipo de alimento pode optar por cultivar uma horta orgânica em casa. “Aqueles que aprendem a produzir o próprio alimento, cada vez mais procuram saber o que é importante na alimentação, mudando os próprios hábitos alimentares”, diz Carlos Daniel de Souza Rodrigues, especialista em produtos orgânicos e hortas caseiras.

Dúvidas frequentes

O emagrecimento rápido está mais associado ao efeito sanfona do que o lento? 

Giovanna Mauro e Silva - Sim, pois o peso demora um período para se adequar ao corpo, então quem perde muito peso rápido tem uma tendência maior a engordar novamente, do que os que emagrecem de forma lenta.

O consumo de medicamentos para emagrecer pode ser evitado ou há casos em que o uso deles é inevitável? Por quê?

G.M.S - O Consumo de remédios para emagrecer pode e deve ser evitado, pois o processo de emagrecimento consiste muito mais em uma educação alimentar do que no uso de remédios. Existem situações em que os mesmos podem servir de auxiliadores, porém não substituem a mudança de hábitos. Estes casos devem ser acompanhados por médicos, que dirão o tipo de remédio a ser usado, e para que situações, por exemplo: depressão, disfunções de hormônios e glândulas, entre outros.

Quais os principais problemas que o consumo de medicamentos diuréticos pode causar em quem tem dificuldade para emagrecer?

G.M.S - O consumo de diurético é muito associado ao emagrecimento, mas é ilusório. Pois ele reduz o inchaço e não a gordura. Seus efeitos são para reduzir a retenção hídrica, ou seja, eliminar água do corpo, e diminuir a pressão arterial. Assim, pessoas que usam sem recomendação médica podem ter complicações, como pressão baixa, enxaquecas, enjoos, taquicardia, entre outros.


sábado, 1 de junho de 2013

A fotografia tem capacidade de denunciar e transformar

Ayad conseguiu operar o olho depois que as fotografias de Maurício Lima mobilizaram uma família americana.

   Em janeiro escrevi um post sobre uma exposição de fotografias que revelavam a História do Brasil. No texto citei o poder de reflexão que uma imagem é capaz de causar. Alguns meses depois retomo o assunto e reflito, mas não sobre a História do Brasil. Dessa vez o objeto que gera inquietude é a guerra.

   Por que fotografar a guerra? Fotografa-se para alimentar o sensacionalismo? Vender o sofrimento alheio? Não vejo a fotografia de guerra como algo negativo no sentido de se aproveitar da tristeza para ganhar status. Penso que as imagens dessas atrocidades têm a missão de denunciar o que está acontecendo longe dos olhos de muita gente.

   Robert Capa é um dos pais da fotografia de guerra. Ele esteve presente nos principais conflitos da primeira metade do século XX e morreu com a câmera fotográfica na mão após pisar numa mina terrestre, na Guerra da Indochina. Podemos dizer que Capa é um precursor da denúncia social que abrange os conflitos armados. 

   James Nachtwey é mais um exemplo desse grupo de fotógrafos. Ele foi influenciado pelas imagens da Guerra do Vietnã e por isso enxerga esse tipo de fotografia como uma poderosa denúncia de crueldade e injustiça.

Veja o documentário “Fotógrafo de guerra” que conta a trajetória de James Nachtwey


   O Brasil também não fica de fora quando se trata desse tipo de trabalho. Entre os fotógrafos da área podemos citar André Liohn e Maurício Lima. Ambos acreditam no poder de mobilização que a fotografia possui. Para Maurício cobrir guerra “É necessário e fundamental. É uma vertente na fotografia que, se bem executada, pode servir de agente transformador e de denúncia na vida das pessoas porque mexe com a emoção, o sentimento, a sensibilidade do fotografado e do fotógrafo.”.

   Agora eu pergunto: E você? Pensa como esses fotógrafos? A fotografia de guerra é uma importante ferramenta para fazer denúncias? Você se mobiliza quando vê uma imagem de guerra? Eu acredito que a fotografia tem esse poder de mobilização. 

   Finalizo esse post com um vídeo que eu e a Bianca Amorim preparamos. Nele nós mostramos o trabalho de Robert Capa, James Nachtwey, André Liohn e Maurício Lima.



Por Priscila Pacheco