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domingo, 22 de junho de 2014

Protagonista do sequestro do ônibus 174. Quem lembra?

Sequestro do ônibus 174, no dia 12 de junho de 2000
Ônibus 174 é um documentário impactante não apenas por mostrar o sequestro de um ônibus na zona sul do Rio de Janeiro, mas por instigar a reflexão sobre certas questões existentes na sociedade. Questões que giram em torno do protagonista da história. O sequestrador Sandro Barbosa do Nascimento.

No dia 12 de junho de 2000, Sandro passou horas dentro de um ônibus da linha 174 com alguns passageiros que foram pegos como reféns. Todo o sequestro foi transmitido ao vivo pela televisão e terminou em tragédia. Uma das reféns, a jovem professora Geisa, foi morta devido a um erro da polícia. Já Sandro morreu asfixiado dentro da viatura.

O sequestrador também tinha poucos anos de vida. Pouca idade, mas uma longa história. Viu a mãe ser morta na favela em que viviam, tinha uma tia e uma avó, mas passou a morar na rua. Sobreviveu à chacina da Candelária e era viciado em drogas. 

Sandro é o exemplo da desestruturação familiar e da desigualdade social. O documentário de José Padilha começa mostrando imagens áreas do Rio de Janeiro. Por alguns minutos é possível viajar da favela até a parte rica da cidade. No decorrer da produção as entrevistas conduzem para a questão da falta de estrutura na base familiar. Dessa forma, temos construído um personagem que representa diversos brasileiros. 

Padilha joga a transformação do protagonista em nossas mãos. Permite que interpretemos a história de uma forma mais humana. A intenção não é justificar o sequestro ou qualquer outro ato ilícito, mas mostrar que essas pessoas não nascem com o desejo fazer coisas consideradas erradas. Muitas vezes elas são conduzidas ao mundo do crime e das drogas pelas condições de vida. Condições que para mim não são responsabilidades somente das autoridades. Afinal, há o quesito familiar que não pode ser ignorado. 

A estrutura fortalecida, a educação, o cuidado, o carinho e o amor contribuem muito para a formação de um ser humano. E pelo que podemos ver no documentário, Sandro não teve nada disso. Ao somar essas ausências com o abandono das autoridades e a violência das ruas temos alguém que representa perigo. Alguém que pensa: “não tenho nada a perder mesmo”.