Em virtude dos questionamentos relacionados ao futuro
do jornal foi realizada uma pesquisa com 62 jornalistas dos estados de São
Paulo e do Rio de Janeiro (os dois maiores mercados jornalísticos do
Brasil). Para todos os profissionais foi
feita a seguinte pergunta: “Você acha que o jornal impresso poderá ser extinto
por causa do crescimento da internet”? Os 62 profissionais estão empregados em
veículos pequenos, médios e grandes. As entrevistas foram realizadas
pessoalmente, por telefone e e-mail.
Muitos profissionais da área expressam opiniões que
lembram o tema central de Apocalípticos e Integrados, livro escrito por Umberto
Eco na década de 1970. Assim, foi possível classificar as respostas em três grupos. Aqueles
que estão crentes que a mídia impressa será extinta são os Apocalípticos, 10
dos que responderam a questão. Já os que acreditam que o jornal resistirá aos
adventos da informática são os Integrados. Esses são maioria, pois totalizam 47
jornalistas. E há, ainda, um terceiro: os Moderados, que contam com apenas 5
respostas.
No grupo dos integrados estão presentes aqueles que
acreditam na permanência do jornal mesmo com o advento da internet. Um
argumento bastante utilizado por estes defensores é de que o jornal deve
modificar-se. Dentre as modificações
citadas estão: a interatividade com as outras mídias, principalmente a
internet; o conteúdo deve ser mais analítico e aprofundado; a distribuição do conteúdo
deve passar por reajustes; a diagramação deve ser atraente.
Outros pontos defendidos pelos integrados são os de
que a internet possui agilidade na veiculação das notícias, mas não apresenta
profundidade na abordagem dos assuntos nem são completamente confiáveis, principalmente
por causa da velocidade das publicações; as tecnologias portáteis, como tablets
e smartphones ainda não estão completamente difundidas, o preço dos aparelhos é
elevado assim como o acesso à internet. Já o impresso, para eles, tem poder de
ser um documento muito importante com o potencial de registrar a história de
uma cidade, em especial as que ficam no interior dos estados, e a informação no
papel tem mais credibilidade.
Para o repórter do jornal O Dia, Geraldo Perelo, as mídias
eletrônicas, em tempo real, não têm condições de oferecer uma informação mais
cuidadosa e elaborada por causa do imediatismo.
“É comum a “barrigada” (informações erradas, não
checadas) em portais de informação, em tempo real, exatamente pela falta de
tempo para apuração dos fatos. O jeito é fazer as correções necessárias, de
tempo em tempo, para ir situando o internauta, o expectador ou o telespectador,
aos poucos. O jornal, por sua vez, usa o tempo disponível para esmiuçar
(investigar, analisar) repercutir, desdobrar, incrementar, ilustrar (com fotos,
infografia etc) a informação, de forma a dar melhor subsídios à formação de opinião.
O leitor do jornal não quer mais saber que o prédio desabou; isto, ele já tomou
conhecimento pela internet, rádio e televisão. Ele vai comprar o jornal no dia
seguinte para saber, “por quê?”– a obra foi mal feita, faltou fiscalização da
prefeitura etc, informação que geralmente resulta de um trabalho mais
detalhado, repito, mais investigado.”, diz Geraldo.
Já o jornalista do O Estado de São Paulo, Roberto Godoy,
pensa que os jornais impressos terão vida longa e próspera, mas terão de ser
mais inteligentes e possuir diferenciais em relação às plataformas eletrônicas.
“Circulação menor, preço maior, conteúdo analítico, feito por profissionais de
elevada capacidade para atender a demanda de leitores qualificados – essa é a
fórmula.”, afirma Roberto Godoy.
O jornalista da Folha de São Paulo, Cristiano Cipriano
Pombo, acredita que sempre haverá adeptos do papel e que o jornalista atual
precisa estar preparado para trabalhar nos dois campos. Cristiano também aponta
que a Folha de São Paulo produz o Projeto Gráfico, que apresenta produtos novos
para o jornal com o intuito de atrair o leitor. Por exemplo, hoje a Folha está
mais colorida e com letras maiores.
Um dos expoentes do grupo dos Moderados é o editor assistente
de O Estado de São Paulo, Ivan Marsaglia, que argumenta que não é a internet
que ameaça a existência do jornal impresso. Segundo ele, “... é preciso
aguardar para ver”.
O grupo dos apocalípticos também não integrou muitos
adeptos. Os poucos, 10 jornalistas, que acreditam no fim do jornal usaram como
argumento o crescimento da internet, em especial, o fato de esta ser um
ambiente relativamente mais livre e anárquico, além da praticidade e da
capacidade de seleção que o leitor possui no mundo virtual, bem como a
agilidade na veiculação das notícias.
O repórter fotográfico do jornal O Globo, Marcos Alves,
acredita que além da tecnologia há a questão ecológica, pois para a produção do
papel usado no jornal impresso há o uso de celulose e água.
Já o repórter do O Estado de São Paulo, Carlos Lordelo,
pensa que a internet não será a única responsável pela extinção do jornal
impresso, pois estão surgindo equipamentos cada vez mais sofisticados e a nova
geração já nasce acostumada a ler telas de computador. Além disso, o meio
digital permite a utilização de podcasts, vídeos e extensas galerias de
imagens, algo impossível no jornal impresso.
O repórter e colunista da Folha de São Paulo, Rodrigo
Bueno, argumenta que o jornal em papel ocupa mais espaço físico, é
relativamente caro, tem alcance e tamanhos limitados e não é um produto dos
mais ecologicamente corretos. Podendo um dia acabar se continuar da maneira
como é visto hoje.
* O conteúdo desse post e dos três anteriores foi
apresentado no congresso nacional da Intercom, em Recife, no ano de 2011.