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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Chocolate – um olhar semiótico


O filme Chocolate de 2000, dirigido por Lasse Hallström, apresenta histórias que causam discussões relacionadas ao preconceito, ao papel da mulher e à influência da religião e do poder na sociedade, na cidade fictícia de Lansquenet-sous-Tannes. Entretanto, Chocolate também nos possibilita análises semióticas em cada cena. 
A resenha a seguir concorda com estudos semióticos de Charles Sanders Peirce, um dos fundadores da moderna semiótica geral, segundo Winfried Nöth, em o Panorama da Semiótica. Consideramos 3 níveis semióticos, o qualitativo-icônico, o singular-indicativo e o convencional-simbólico presentes na película.
No 1º nível, analisamos os aspectos qualitativos da cena, ou seja, aqueles responsáveis pela primeira impressão provocada no receptor, tais como cores, formas e textura das imagens. No 2º, a mensagem é vista como algo existente em espaço e tempo determinados, sendo analisada em seu contexto e finalidade, assim, há uma busca em se perceber possíveis indícios em tudo o que está sendo transmitido. O 3º examina o poder representativo do filme, levando em conta os significados e valores que possua. Aqui, portanto, faz-se a interpretação da mensagem como um todo.

     Ícone
De acordo com os estudos Peirce é possível dizer que os objetos religiosos mostrados na igreja, a fotografia da esposa sobre a mesa do escritório e a estátua do pai do Conde Paul de Reynaud, os retratos que Luc Clairmont, filho de Caroline, desenha e a ânfora que Vianne Rocher guarda as cinzas da mãe são alguns dos exemplos de ícones. Entretanto, o maior ícone do filme fica por conta do chocolate, apresentado em vários momentos, de formas variadas, ora na panela com consistência cremosa, ora em barras, ora esculpido para a vitrine da chocolataria.

     Índice
Destacamos alguns índices observados nas cenas: A chegada de Vianne Rocher e sua filha Annouk, ao vilarejo, vestidas com capuz vermelho é indício de que trazem “doces”, em referência direta ao conto dos irmãos Grimm, Chapeuzinho Vermelho. O grito desesperador de Vianne no deck do rio ao ver o barco incendiado indica que a protagonista imaginou que a filha estivesse morta, já que todos haviam adormecido nos barcos. Os sermões proferidos pelo padre, cujo texto e suas revisões são do Conde Reynaud, representam um discurso autoritário e controlador, entretanto, justificado pelo caráter sagrado. Por fim, a presença de estrangeiros no vilarejo ressalta a ideia de que algo na comunidade será alterado, inicialmente com a chegada de Vianne e cenas depois a sensação de instabilidade é detonada com a presença do músico e andarilho Roux.


Símbolo
Segundo Peirce o “símbolo é um signo que se refere ao objeto que denota, em virtude, de uma lei, normalmente uma associação de ideias gerais”. Assim, o chocolate da loja de Vianne é a libertação, o estímulo para mudança de atitudes. O exemplo está na transformação que o chocolate causou na vida da personagem Josephine, ao perceber que seria capaz de sobreviver longe da dominação do marido. A religiosidade radical imposta pelo Conde Reynaud é a prisão, a alienadora de mentes. Isso transparece na imposição do luto da personagem Madame Audel. Seu marido havia falecido na Primeira Guerra Mundial e, no entanto, décadas depois, ainda lhe era exigido o luto. As cinzas que Vianne guardava de sua mãe representam o apego ao passado, e o ato de jogá-las ao vento é mais um símbolo de libertação, assim como, quando o Conde invade a loja e devora os chocolates após tentar destruí-los, se rendendo aos desejos, a ponto de adormecer, em clara entrega física e mental.

Aproveitando o clima ouça a música "Chocolate", de Marisa Monte.

Bibliografia
NÖTH, Winfried. Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. 2ª edição. São Paulo: Editora Annablume, 1995.
Bruna Freesz e Priscila Pacheco






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