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domingo, 22 de setembro de 2013

Nas palavras da jornalista Eliane Brum toda vida é levada com o fio do extraordinário

   "Para Priscila, histórias reais para lembrar que toda vida é levada com o fio do extraordinário”, foi a
dedicatória que a jornalista Eliane Brum escreveu ao autografar o meu livro “A vida que ninguém vê”. Em minha opinião Eliane é uma das melhores jornalistas do Brasil e segue o caminho do magnífico Gay Talese. Ela veio de uma cidade do interior gaúcho e já ganhou mais de 40 prêmios de reportagem, mas os prêmios não interessam neste momento. O que importa é a sensibilidade transmitida em cada palavra escrita.

   Eliane escreve de uma maneira que somos conduzidos a adentrar o universo das personagens anônimas de suas histórias. Sentimos a magia no olhar do desajeitado Israel , a dor presente em “Enterro de pobre” e na saga vivida pelo “Menino do Alto”. Também vibramos pela vitória descrita em “Eva contra as almas deformadas”, uma mulher que não aceitou ser vítima e repudiou todo o preconceito que jogavam contra ela. “Eva é mulher, negra e pobre. Eva treme as mãos. Tudo isso até aceitam. O que não lhe perdoam é ter se recusado a ser coitada. O que não perdoam a Eva é, sendo mulher, negra, pobre e deficiente física, ter completado a universidade. E neste país. Todas as fichas eram contra ela e, ainda assim, Eva ousou vencer a aposta. Por isso a condenaram”. 

   As histórias das pessoas anônimas estimulam a minha reflexão e comprovam a tese de que jornalista não deve ficar atrás da tela do computador. Ele precisa se jogar na rua e gastar as solas dos sapatos. Observar, sentir, refletir e provocar um diálogo. Não há como fazer isso numa troca de e-mails. Não mesmo.  É pelo mundo que as grandes histórias serão encontradas. 

domingo, 15 de setembro de 2013

O desejo de morrer domina um grande número de pessoas

   Um status presente no Facebook sobre o suicídio fez com que eu lembrasse de um documentário que assisti. "Solitário anônimo" mostra a história de um idoso que decidiu morrer. Um intelectual que saiu de casa sem rumo, parou de comer e no auge da fraqueza foi levado ao hospital e "obrigado" a viver. O documentário traz uma reflexão sobre o direito de viver e morrer. Ele também coloca em questão o fato de o Estado ter a obrigação de cuidar dos cidadãos, logo, a liberdade de escolha da vida sofre interferência. 

  Em determinada parte do documentário o solitário diz não ter coragem de cometer suicídio, mas parar de comer não pode ser considerado um suicídio? Podemos dizer que é um suicídio em lentidão? 

   Enfim, quando estava no hospital o idoso percebeu que não tinha forças para lutar pela própria morte, seus argumentos e conhecimento não serviram para impedir as ações dos funcionários do hospital. 


Confira o documentário


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Brasil está entre os dez países com o maior número de voluntários

   No dia 28 de agosto é comemorado o Dia Nacional do Voluntariado. A data foi sancionada pelo presidente da República, José Sarney. Com o desenvolvimento das práticas sociais também surgiram os Centros de Voluntariado, que ajudam organizações sociais a aperfeiçoar a mobilização e gerenciamento de voluntários, e estimulam a prática do voluntariado na sociedade.

   De acordo com o estudo realizado pela organização britânica Charities AID Foundation (CAF), o “Word Giving Índex 2012 – A global view of giving trends”, o Brasil está entre os dez países com o maior número de voluntários. A pesquisa ainda mostra que os Estados Unidos ainda ocupam a primeira posição, possuem uma média de 105 milhões de pessoas que já praticaram algum ato solidário. A Índia aparece em segundo lugar com 87 milhões. Já o Brasil apresenta 18 milhões de pessoas.

   Para as Nações Unidas (ONU), “voluntário é o jovem, adulto ou idoso que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a diversas formas de atividades de bem estar social ou outros campos”. Existem diversas formas de exercer o voluntariado, por exemplo, doar sangue, fazer e incentivar a coleta seletiva de lixo, visitar asilos e instituições infantis. Ou integrar alguma Organização Não-Governamental (ONG).

   No Brasil há milhões de ONGs e elas abrangem diversas áreas: meio ambiente, saúde, assistência social, educação, cidadania e cultura. Ao decidir qual é a área de interesse, o futuro voluntário deve pesquisar bem sobre a instituição, verificar se ela pratica as ideias que propaga, se existe juridicamente, visitar o local e conversar com funcionários e outros voluntários.

   Além da área, o voluntário deve se identificar com o projeto realizado. Algumas ONGs possuem diversos projetos. Um exemplo é a ONG Canto Cidadão, que atua em São Paulo há 11 anos. O Canto Cidadão começou com o grupo de voluntários que, caracterizados de palhaços, visita o público adulto de hospitais públicos e filantrópicos. Hoje, o Canto Cidadão também tem grupos de teatro e coral, que também atuam em hospitais. Mas quem não se sente bem em ambiente hospitalar pode dar aulas de inglês e espanhol na sede da ONG, localizada na zona Oeste de São Paulo.

   O avanço da tecnologia possibilitou que a busca por organizações sociais ficasse mais prática. Muito além de ferramentas de busca, como o Google, há sites específicos que apresentam instituições sociais e trabalhos voluntários. É o caso do Atados que funciona como uma rede social e ajuda as pessoas a encontrarem ONGs e atividades solidárias.



sábado, 17 de agosto de 2013

Voluntária ajuda a encontrar pessoas desaparecidas

   Uma mulher que foge de casa por causa da violência do marido, crianças que são retiradas dos pais devido à pobreza e separadas em abrigos, a mãe que deixou o filho para alguém cuidar por um tempo. Enfim, as histórias de pessoas desaparecidas são inúmeras. E quando não há suspeitas de sequestro ou homicídio a polícia não é de grande ajuda. Portanto, como encontrar um parente que você não tem notícias e muitas vezes nem chegou a conhecer?

   Lindalva Matos, mais conhecida como Tia Xereta, ajuda nestas situações voluntariamente. Após trabalhar o dia todo e enfrentar a turbulência do transporte público, Lindalva passa as poucas horas livres em frente ao computador procurando desaparecidos civis*. A história começou quando ela decidiu procurar duas tias maternas que estavam desaparecidas há décadas. Ao ter resultados positivos pensou em ajudar outros que passavam pela mesma situação. Desde então, Lindalva já encontrou mais de 2 mil pessoas.

   O documentário “Tia Xereta, Caminhos para o reencontro” aborda o trabalho voluntário de Lindalva. Além disso, mostra alguns casos de simples cidadãos que conseguiram encontrar familiares. A produção faz parte de um projeto de TCC que foi apresentado por estudantes de jornalismo em 2012.
A história da Tia Xereta comprova que o ser humano tem uma capacidade imensa para ajudar o próximo. Mesmo tendo muitas obrigações é possível dedicar um tempo, ainda que pouco, para realizar ações solidárias. O voluntário não é uma pessoa impecável. Ele tem defeitos e vícios como todo mundo, mas compreende que também apresenta qualidades que podem contribuir para o bem.

   *Desaparecido civil é aquele que desaparece sem que a família conheça o paradeiro.

Assista ao documentário "Tia Xereta, Caminhos para o reencontro"



quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A ciência trabalha para produzir uma vacina contra o Alzheimer, mas os resultados podem demorar a aparecer

   Muitos estudos são realizados para prevenir a doença de Alzheimer, mas os resultados não devem surgir tão cedo. Pois ainda “são necessários muitos avanços e experimentos”, conta o Dr. Gilberto Xavier. Na última parte da entrevista o cientista explica o que o Alzheimer é para a neurociência e que na doença de Parkinson os sintomas cognitivos aparecem antes dos motores.

O que a neurociência pode dizer sobre a doença de Alzheimer? 
A doença de Alzheimer é uma síndrome que envolve várias alterações no sistema nervoso. Uma delas é perda de neurônios em uma região do cérebro chamado Córtex. Outra região que perde muitos neurônios é o Prosencéfalo Basal. Essa é uma região que tem neurônios que produzem uma substância química neurotransmissora chamada acetilcolina. Se falta acetilcolina* no cérebro, o indivíduo tem dificuldade na memória. A doença é “tratada” – na verdade ela não é tratada -, mas ela seria tratada dando substâncias como acetilcolina, então não é um tratamento, é um paliativo. Você está tratando o sintoma, não a doença. A doença é a perda de neurônios. Você teria que saber qual é o motivo da perda desses neurônios e tentar evitar que ela ocorra. 

Existem estudos sobre vacinas para prevenir a doença de Alzheimer? 
Sim. Existem estudos nesse sentido e “n” outras doenças neurológicas no caso. Porém, não verei isso funcionar. Talvez vocês vejam, mas eu não. 

Os estudos não estão avançados por conta da política, por falta de interesse ou por que ninguém bota fé? 
As pessoas botam fé sim, tanto é que tem dinheiro para pesquisar esse tipo de coisa. Depende de muitos avanços e experimentos. Por exemplo: essa epidemia de AIDS começou há muito tempo e se tornou mais coisa de mídia no final da década de 80. Naquela época se falava que em cinco anos nós teríamos uma vacina contra AIDS, mas não temos até hoje. São 33 anos. Por isso estou dizendo que, provavelmente, não vou ver uma vacina contra Alzheimer. 

Um estudo científico sempre é feito com contribuição do passado? 
Sempre. Na ciência, sempre. Ninguém faz ciência sozinho. Falo até uma frase minha, que sempre uso: “Ciência é um empreendimento coletivo”. Não existe o negócio de que um grande cientista inventou tudo sozinho. Dependo de pessoas que vieram antes de mim, que desenvolveram ideias. E descobriram coisas para eu criar os raciocínios, para eu tentar solucionar certo problema e usar isso para ir adiante. É um ato de produção de cultura, e cultura é uma coisa que é transmitida de geração para geração. Eu aprendi com as pessoas que me antecederam e estou ensinando para as pessoas que vão me suceder que são meus alunos. 

Tem um trabalho seu sobre a progressão da doença de Parkinson. Quais foram os resultados desse estudo?
É, na verdade estamos falando de um estudo que foi publicado há pouco tempo. Foi desenvolvido por um aluno meu que já concluiu doutorado. E acho que a contribuição maior desse trabalho é mostrar que, antes de aparecerem os sintomas motores, que são os mais valorizados na doença de Parkinson, os sintomas cognitivos já começaram anos antes. Então até isso pode ajudar no diagnóstico da intervenção para postergar o aparecimento da doença.

*Acetilcolina é um neurotransmissor que contribui com o desempenho da memória.

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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

“Intuição tem tudo a ver com memória”, informa o neurocientista Gilberto Xavier

   Você acha que a mulher é mais intuitiva que o homem? O que significa intuição para a ciência? A segunda parte da entrevista do Dr. Gilberto Xavier fala sobre este assunto.

O que a ciência pensa sobre intuição?
Intuição tem tudo a ver com memória. A intuição nada mais é do que usar bancos enormes de memória que você já tem para fazer uma previsão a cerca de um momento. Intuição joga com probabilidades, o que pode acontecer. Estamos no mundo do objetivo e do concreto. Não é mágica.

E a questão de que as mulheres são mais intuitivas do que o homem?
É verdade. As mulheres são treinadas socialmente a prestar mais atenção a ambientes internos e expressões faciais. O sexto sentido feminino é na verdade uma capacidade de perceber expressões faciais. Tem toda uma história de que as mulheres extraem muitas informações das expressões não verbais dos outros.

Seriam pessoas mais perceptivas, mas estamos no mundo do objetivo e do concreto, ou seja, são percepções, são probabilidades que fazem com que as pessoas achem que algo vai acontecer. Pode ser até que aconteça aquilo que ela estava prevendo, mas não é mágico, não é que ela antecipou. 

Então nesse caso não há intuição melhor ou pior, porque o homem também tem. 
Você tem razão, o homem tem habilidades distintas. Por exemplo: se você pega um homem e coloca numa situação de orientação espacial em ambiente aberto, ele é melhor. Já a mulher é melhor em ambientes fechados. 

   *O próximo post aborda a doença de Alzheimer e de Parkinson.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

“Algumas drogas podem favorecer a memória, mas eu jamais tomaria”, diz neurocientista

   Eu precisava entrevistar um cientista para o trabalho de jornalismo científico. Melhor dizendo: Eu e o meu grupo. Numa busca incessante passamos por morte súbita, anorexia em adolescentes, sustentabilidade, poluição x aparelho respiratório e por fim chegamos à neurociência. Pois o Dr. Gilberto Fernando Xavier aceitou nos dar a entrevista.

   Mas o que pensamos quando escutamos a palavra neurociência? É algo distante de nós? Complicado? A princípio o termo pode parecer difícil, mas distante com certeza ele não é. A neurociência traz estudos importantes de diversos fatores que fazem parte do nosso dia- a- dia. Numa conversa mais que interessante o Dr. Gilberto conseguiu transmitir essa proximidade.

   Pesquisador da área de atenção e memória, no laboratório de neurociência e comportamento da USP, Dr. Gilberto fala sobre imaginação, intuição feminina, Alzheimer, Parkinson, consumo de medicamentos para memória, e sobre o fato de o cérebro do homem ser capaz de aprender qualquer coisa independente da idade. 

   Para o post não ficar muito longo resolvi dividir o tema. Comecemos!

Até que ponto a perda de memória na velhice é normal?
É normal. O que acontece é que ao longo do desenvolvimento humano, a partir do momento em que a gente é concebido como pessoa, começam a se dividir células. Hoje, sabe-se que continuamos a produzir células nervosas até a fase adulta e também perdemos alguns neurônios dependendo do grau de estimulação que recebemos do ambiente. O fato é que ocorrem outras alterações no sistema nervoso e a perda de células ao longo do envelhecimento nem é a coisa mais importante. Se a pessoa tiver um envelhecimento saudável, ela vai ter uma perda de um tipo específico de memória que é a operacional, um tipo memória de curta duração. O sistema nervoso que é uma estrutura bastante plástica, flexível, se molda de acordo com o estímulo que recebe do ambiente. Quanto mais a pessoa usa a atividade intelectual mais ela mantém o funcionamento do sistema nervoso intacto. É como fazer exercício físico; se você quer manter seu corpo fisicamente bem, tem que manter uma regularidade de atividade física. Do ponto de vista neural é a mesma coisa. Se você quer se manter intelectualmente bem tem que manter a atividade intelectual.

Isso quer dizer que a memória de uma pessoa alfabetizada é mais afiada do que a de um analfabeto?
Com certeza. Não só mais afiada, como maior. A extensão da memória operacional é maior. E a pessoa preserva a capacidade intelectual por mais tempo. Tudo isso em um envelhecimento saudável. 

O envelhecimento saudável é o mais raro?
O problema é que hoje têm aparecido muitas doenças neurológicas provavelmente relacionadas ao fato de que o ser humano está vivendo mais. Há dois, três séculos atrás, o ser humano vivia até os 40 anos. Hoje, por conta da questão de alimentação, saúde, vacinas e avanços da medicina, você consegue viver até os 70, 75 anos. A expectativa de vida média do brasileiro. Então, uma pessoa que chega nessa idade tem maior chance de ter doença. 

A memória está associada à imaginação?
Definitivamente. A imaginação é fruto da memória. Então, como a gente imagina coisas tão diferentes? Provavelmente por combinação de diferentes memórias e extrapolação. Extrapolação é quando não se precisa da informação se percebe a regra que está sendo usada e você consegue antecipar algo que pode acontecer. É por isso que a gente consegue imaginar coisas que nunca viveu, usando da memória para gerar extrapolações. 

Remédios para memória funcionam?
Algumas drogas podem favorecer a memória, mas eu jamais tomaria. O cérebro é uma estrutura que tem uma química extremamente complexa. E ela se autorregula. Se você desequilibra essa química usando um agente externo, consequentemente, o cérebro que é uma estrutura plástica vai alterar sua função. Ele altera a função para se adaptar a presença daquela substância. Você está criando uma estrutura que funciona de forma diferente.  Se você tira a substância terá uma síndrome de abstinência. 

Medicamentos psiquiátricos e remédio para emagrecer.  São muitos prejudiciais à saúde e memória?
Depende do medicamento. Os remédios para emagrecer, geralmente são anfetaminas e podem trazer consequências graves, inclusive sobrecarga cardíaca. Eu não aconselharia. 

O desenvolvimento do cérebro é infinito?
Infinito. Uma pessoa com 80, 90 anos consegue aprender a tocar piano, por exemplo. Vai lá, treina e aprende.

Um Jovem consegue reter mais informações. Por quê?
Porque a flexibilidade, a plasticidade nervosa do jovem é maior. 

   No próximo post falaremos sobre intuição, Alzheimer e Parkinson.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Por que a culpa é da vítima?

  Dizem que a maneira como a mulher se veste atiça o desejo dos estupradores. Ela usou algo provocante, mostrava muitas partes do corpo. Enfim, dezenas de justificativas para culpar a violentada e justificar o violentador. Mas se a questão é a roupa o que podemos dizer dos casos de violência sexual ocorridos no Egito? O que dizer das mulheres que mesmo cobrindo todo o corpo não escaparam de abusos? 

   Pensava na violência que gira em torno de nós enquanto lia as últimas notícias sobre o Egito e pensei muito mais quando me deparei com um post do Leonardo Sakamoto. Não! Sakamoto não falava sobre os casos egípcios. Num texto intitulado “Se a mulher é famosa, não pode ser vítima de violência doméstica?”, ele dizia que o ator Dado Dolabella não foi julgado por ter agredido a atriz Luana Piovani. Dentre as críticas o post destacava o fato de a justiça dizer que Luana não era uma mulher oprimida ou subjugada aos caprichos do homem, logo, não era necessário condenar Dolabella. O homem que foi escolhido pelo público para ganhar R$ 1 milhão no programa A Fazenda.

   Enfim, parte da sociedade continua defendendo o público masculino cegamente. Enquanto isso as mulheres continuam sendo molestadas nos trens, metrôs e ônibus lotados. Correm risco ao andarem sozinhas na rua à noite. Podem ser estupradas quando vão buscar água em algum canto da África. E neste mesmo continente podem ser usadas como armas sexuais. Não estão seguras no trabalho nem na própria casa.

   Não sei se diante de tudo isso sinto ódio, tristeza ou se vomito de nojo. Até quando seremos culpadas por tudo? Até quando nos culparão por causa dos homens que não conseguem conter os próprios impulsos sexuais ou pelos que se sentem no direito de bater por se considerarem mais fortes. O que nos resta? Não ser submissa. Ter a coragem de denunciar. Educar os filhos para que eles compreendam que a figura feminina não é inferior nem deve ser abusada e agredida. Há muito que fazer, defender, lutar e refletir.

domingo, 30 de junho de 2013

Jornalismo livre de pesquisas em internet conta histórias mais ricas e próximas do leitor

   Margareth e Gerard McKee começaram a namorar firme. Quando iniciaram os planos para casar e Gerard começou a trabalhar na ponte, Margareth passou a controlar o dinheiro economizado do salário semanal que o noivo recebia como operário metalúrgico. No verão de 1963 já tinham juntado oitocentos dólares.

   Mas os planos mudaram de rumo numa quarta-feira, 9 de outubro. McKee, como de costume, seguiu para o trabalho na ponte Verrazano-Narrows, em Nova York. E foi nessa ponte, com tempo nublado e ventoso, que ele caiu no mar. “Alguns homens que estavam na ponte se puseram a chorar e, lentamente, todos eles, mais de seiscentos, tiraram seus capacetes e começaram a descer”, conta Gay Talese no capítulo “Morte numa ponte”, do livro Fama & Anonimato.

   Gay Talese nasceu em Ocean City, Nova Jersey, em 1932. É um repórter que não tem preguiça de sair às ruas em busca de histórias, não se preocupa com o “furo” e diz não conhecer o Google. Por que essa informação sobre o Google é importante? Porque os jornalistas estão muito presos em pesquisas oriundas da internet. Para Talese é necessário sair pelo mundo, ver os acontecimentos, conversar e conviver com as pessoas. 

   A forma de Talese trabalhar o jornalismo permitiu que ele contasse a história de Gerard McKee fazendo o leitor adentrar o mundo de centenas de homens que trabalharam na Verrazano-Narrows. Quando surge essa aproximação temos a possibilidade de refletir sobre aqueles que exercem atividades honestas pondo em risco a vida diariamente. Pessoas que passam despercebidas, que não são homenageadas na inauguração de grandes monumentos, que têm uma família e planos para o futuro. Mas que muitas vezes, inocentemente, têm a vida interrompida por um desastre.

   McKee deixou Margareth, o sindicato trabalhista local fez uma campanha para que a construtora da ponte disponibilizasse redes de segurança sob as áreas onde os homens trabalhavam e diversos desses operários também construíram as torres do World Trade Center, derrubadas em 2001 pelo ataque terrorista de 11 de setembro.

   A parte da Ponte vai muito além da morte de McKee, por isso recomendo a leitura completa do livro “Fama & Anonimato”. Talvez você não goste de Gay Talese como eu gosto, mas imagino que passará a prestar atenção em muitas coisas que antes eram praticamente inexistentes.

Por Priscila Pacheco

terça-feira, 25 de junho de 2013

Aproximação entre diferentes culturas é essencial para romper preconceitos

Festa em comemoração ao dia Mundial do Refugiado / Foto de Carolina Nakamura
   
   Acompanhar as notícias de regiões conflituosas faz parte do meu cotidiano há 4 anos, em especial as que envolvem o Oriente Médio e o Afeganistão. O interesse não está relacionado a nenhuma descendência como algumas pessoas perguntam. Simplesmente comecei a estudar sobre esses lugares e quando percebi já estava muito envolvida. Tão entremetida ao ponto de largar a vontade de conhecer Nova York e Paris para desejar ir ao Afeganistão, Irã, Israel e Líbano. 

   Surgiu o sonho de ser correspondente de guerra e de ajudar a população sofrida. Para ser sincera, hoje, não sei se serei repórter de guerra, se terei tanta coragem para levar esse plano adiante. A guerra assusta e é preciso ter muita cautela e determinação para adentrar nela. A única coisa que posso dizer agora é que não consigo me desligar dessas culturas.

   Livros, filmes, palestras, cursos e grupos de discussão sobre o tema passaram a fazer parte da minha rotina. Eles são ótimos para que não fiquemos presos ao que grandes veículos de comunicação nos mostram. Além disso, valorizo muito o contato com pessoas que são desses países ou simplesmente os conhecem bem. Penso que assim podemos quebrar preconceitos e enxergar que lugares como o Oriente Médio, por exemplo, não são antros de terroristas. 

   As pessoas de lá são “gente como a gente”. Elas se apaixonam, sonham, trabalham, estudam, sorriem, sofrem. No Líbano as garotas podem usar biquínis, “ficam” e vão a festas. O Irã tem uma população jovem imensa que adora ir ao cinema e faz festa escondida das autoridades. Enfim, há uma infinidade de coisas que eu poderia relatar para mostrar que os monstros que assustam muitos ocidentais são criação de quem gosta de generalizar e enxerga só um lado da moeda.

   Enfim, as notícias relacionadas a países conflituosos fez com que o termo “refugiado” se tornasse algo comum para mim. Pois é normal as pessoas fugirem de governos opressores, de guerras e de desastres ambientais. Mas um post publicado no blog do Atados, rede social que possibilita o encontro de vagas de voluntariado em diversas ONGs,  fez com que eu prestasse atenção nos refugiados que vêm para o Brasil e passasse a pensar um pouco mais na África. Rapidamente compartilhei o texto com um casal de amigos, Marcos e Bianca. E por coincidência ou providência o Marcos havia pensado na questão dos refugiados naquele mesmo dia. Além disso, o irmão dele começaria a dar aulas de português aos refugiados no Instituto de Reintegração do Refugiado - Adus. Começamos a conversar muito sobre o tema. Eu ligada nos 220 volts como de costume.

   Todavia, o despertar causado pelo post foi fortalecido pela festa One Love Junino. O evento realizado no dia 16 de junho pela Adus em parceria com o Atados adiantou a comemoração ao dia Mundial do Refugiado, que acontece no dia 20 de junho. Naquele momento não surgiram somente africanos. Entre eles estavam habitantes de países da América. Mas independente da localização imagino que cada um deve enfrentar empecilhos parecidos para conseguir reconstruir uma nova vida no Brasil. Empecilhos que pelo visto não conseguem derrotar a esperança. Aquela que consegui ver no olhar de muitos deles. 

   Durante as conversas eles transmitiam a empolgação em conseguir um emprego, alugar uma casa, aprender o português. Diziam que o Brasil era um país muito bom, que o racismo aqui não é tão grande e ficavam felizes quando descobriam que no Brasil nós estudamos sobre a África na escola. Esse contato confirma o que disse parágrafos acima: precisamos nos aproximar das pessoas para quebrar preconceitos e entender que independente da região temos muitas características em comum. 

   Enfim, eles sonham, trabalham, estudam, sorriem, sofrem e amam. Eles são gente como a gente. 

   Continuemos a conversa numa próxima oportunidade.


Por Priscila Pacheco

terça-feira, 18 de junho de 2013

Falta de reeducação alimentar prejudica quem deseja emagrecer

   O excesso de peso é um problema preocupante na sociedade brasileira, pois tem atingido mais gente nos últimos anos. De acordo com a última pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em 2011, o número de pessoas acima do peso no Brasil subiu de 42,7% para 48,5% entre 2006 e 2011.

   Mas não é somente o aumento de peso que deve ser considerado um agravante para a saúde pública. O estilo de vida de quem tenta emagrecer, mas tem dificuldade requer muita atenção. Afinal, é comum encontrar pessoas que dão preferência às “milagrosas” dietas pobres em nutrientes, ao consumo de medicamentos diuréticos sem acompanhamento médico ou até à ausência de alimentação.

   De acordo com a nutricionista Giovanna Mauro e Silva, os problemas mais comuns causados pelas dietas “milagrosas” são “sonolência, perda de atenção, queda de cabelos e unhas, olheiras, entre outros, chegando a anemias e distúrbios”. Giovanna também informa que “existem situações em que os remédios para emagrecer podem servir de auxiliadores, porém não substituem a mudança de hábitos. Estes casos devem ser acompanhados por médicos que dirão o tipo de remédio a ser usado”.

   A psicóloga Andréa Bossan começou a tomar medicamentos diuréticos aos 15 anos de idade. Hoje, aos 40, afirma que conseguiu ficar muito magra, mas voltou a engordar. Tenta fazer várias dietas, fica sem se alimentar por um longo tempo e se rende ao consumo de shakes. Andrea reconhece que tem dificuldade em fazer reeducação alimentar e praticar atividade física. “Só não volto a tomar remédio, porque não posso mais. Se pudesse com certeza voltaria, pois é bem mais fácil e rápido para emagrecer”.

   Para Giovanna Mauro e Silva, “as pessoas tendem a se acostumar com o que comem e o quanto comem. E mudar os hábitos é o mais difícil”. Giovanna ainda afirma que “depois que perdemos os “vícios”, a reeducação alimentar se torna menos complicada”. Já Bruna Fernanda Makiyama Albano, também nutricionista, acredita que “as principais dificuldades encontradas atualmente são a determinação de horários e a escolha dos alimentos frente à correria do dia-a-dia”.

   Quem consegue seguir uma dieta saudável reconhece que há muitos benefícios. É o caso da assistente administrativa Carmen Morales, que conseguiu perder 7 kg mantendo uma alimentação balanceada e praticando exercícios físicos. “Além de perder peso, perdi medida. Me sinto mais leve”, diz Carmen, que acredita que a determinação é essencial para conseguir atingir os objetivos. Carmen faz hidroginástica três vezes por semana e, duas vezes por semana, pratica uma mistura de pilates, yoga e alongamento. “Sinto bem estar”, complementa Carmen.

Produtos orgânicos x Reeducação alimentar

   Segundo Giovanna, os produtos orgânicos “não têm influência direta na reeducação alimentar, pois o processo de perda de peso está associado a quantidades e tipos de alimentos. O fato de ser orgânico não torna este processo mais fácil ou mais rápido, apenas mais saudável”. Bruna complementa: “devem-se considerar as condições socioeconômicas do indivíduo e, portanto, nem sempre estes alimentos são acessíveis”.

   Levando em consideração a questão econômica, quem tiver interesse em consumir esse tipo de alimento pode optar por cultivar uma horta orgânica em casa. “Aqueles que aprendem a produzir o próprio alimento, cada vez mais procuram saber o que é importante na alimentação, mudando os próprios hábitos alimentares”, diz Carlos Daniel de Souza Rodrigues, especialista em produtos orgânicos e hortas caseiras.

Dúvidas frequentes

O emagrecimento rápido está mais associado ao efeito sanfona do que o lento? 

Giovanna Mauro e Silva - Sim, pois o peso demora um período para se adequar ao corpo, então quem perde muito peso rápido tem uma tendência maior a engordar novamente, do que os que emagrecem de forma lenta.

O consumo de medicamentos para emagrecer pode ser evitado ou há casos em que o uso deles é inevitável? Por quê?

G.M.S - O Consumo de remédios para emagrecer pode e deve ser evitado, pois o processo de emagrecimento consiste muito mais em uma educação alimentar do que no uso de remédios. Existem situações em que os mesmos podem servir de auxiliadores, porém não substituem a mudança de hábitos. Estes casos devem ser acompanhados por médicos, que dirão o tipo de remédio a ser usado, e para que situações, por exemplo: depressão, disfunções de hormônios e glândulas, entre outros.

Quais os principais problemas que o consumo de medicamentos diuréticos pode causar em quem tem dificuldade para emagrecer?

G.M.S - O consumo de diurético é muito associado ao emagrecimento, mas é ilusório. Pois ele reduz o inchaço e não a gordura. Seus efeitos são para reduzir a retenção hídrica, ou seja, eliminar água do corpo, e diminuir a pressão arterial. Assim, pessoas que usam sem recomendação médica podem ter complicações, como pressão baixa, enxaquecas, enjoos, taquicardia, entre outros.


sábado, 1 de junho de 2013

A fotografia tem capacidade de denunciar e transformar

Ayad conseguiu operar o olho depois que as fotografias de Maurício Lima mobilizaram uma família americana.

   Em janeiro escrevi um post sobre uma exposição de fotografias que revelavam a História do Brasil. No texto citei o poder de reflexão que uma imagem é capaz de causar. Alguns meses depois retomo o assunto e reflito, mas não sobre a História do Brasil. Dessa vez o objeto que gera inquietude é a guerra.

   Por que fotografar a guerra? Fotografa-se para alimentar o sensacionalismo? Vender o sofrimento alheio? Não vejo a fotografia de guerra como algo negativo no sentido de se aproveitar da tristeza para ganhar status. Penso que as imagens dessas atrocidades têm a missão de denunciar o que está acontecendo longe dos olhos de muita gente.

   Robert Capa é um dos pais da fotografia de guerra. Ele esteve presente nos principais conflitos da primeira metade do século XX e morreu com a câmera fotográfica na mão após pisar numa mina terrestre, na Guerra da Indochina. Podemos dizer que Capa é um precursor da denúncia social que abrange os conflitos armados. 

   James Nachtwey é mais um exemplo desse grupo de fotógrafos. Ele foi influenciado pelas imagens da Guerra do Vietnã e por isso enxerga esse tipo de fotografia como uma poderosa denúncia de crueldade e injustiça.

Veja o documentário “Fotógrafo de guerra” que conta a trajetória de James Nachtwey


   O Brasil também não fica de fora quando se trata desse tipo de trabalho. Entre os fotógrafos da área podemos citar André Liohn e Maurício Lima. Ambos acreditam no poder de mobilização que a fotografia possui. Para Maurício cobrir guerra “É necessário e fundamental. É uma vertente na fotografia que, se bem executada, pode servir de agente transformador e de denúncia na vida das pessoas porque mexe com a emoção, o sentimento, a sensibilidade do fotografado e do fotógrafo.”.

   Agora eu pergunto: E você? Pensa como esses fotógrafos? A fotografia de guerra é uma importante ferramenta para fazer denúncias? Você se mobiliza quando vê uma imagem de guerra? Eu acredito que a fotografia tem esse poder de mobilização. 

   Finalizo esse post com um vídeo que eu e a Bianca Amorim preparamos. Nele nós mostramos o trabalho de Robert Capa, James Nachtwey, André Liohn e Maurício Lima.



Por Priscila Pacheco 

terça-feira, 14 de maio de 2013

São Paulo, a cidade das coisas despercebidas




São Paulo é uma cidade imensa, que com seus 11.253.503 habitantes consegue deixar muitas coisas passarem despercebidas.

São Paulo é a cidade das belas frutas do Mercado Municipal, do morador de rua que dorme na calçada do Centro e do que monta uma barraca ao lado de uma universidade na Vila Olímpia.

É a cidade que tem uma frota de mais de 15 mil ônibus urbanos, que dividem espaço com carros, motos, bicicletas e o homem da carroça carregada de papelão. É a cidade em que o lixo é jogado no chão ao lado da lixeira e os cigarros tomam o lugar das formigas e dominam o solo.

São Paulo é a cidade viva que mantém pessoas acordadas dia e noite, mas é a cidade morta que não enxerga as faxineiras que varrem em frente aos grandes prédios e nem os que os constroem.

São Paulo é a selva de pedras que tem um belo jardim no Batalhão da Polícia Militar, obras de arte espalhadas pelo Parque da Luz, e um ambiente de tranquilidade nos extremos da zona sul, mais conhecido como Solo Sagrado. 

São Paulo é o lugar onde grande parte dos seus moradores se refugiam nos 90 shoppings espalhados pelos 1522 km de cidade nos dias mais bonitos do ano, e que reservou 149 quilômetros de suas faixas de trânsitos para aqueles que gostam de pedalar nos domingos.

São Paulo é a cidade de 281 mil e 847 analfabetos, de 6 mil e 765 moradores de rua, das câmeras de segurança, dos anúncios em postes que trazem seu amor de volta, é a cidade que enxerga e não enxerga, que funciona 24 horas mas não tem tempo para nada, que vive e morre todos os dias.

São Paulo é a cidade das alegrias e tristezas, dos amores, desamores e dos sonhos de cidade grande, dos italianos, japoneses, espanhóis, portugueses que, no final, são todos paulistanos. São Paulo é a cidade das coisas que passam despercebidas, a Pauliceia Desvairada, mas que ainda, preserva as luzes, a beleza, e os dentes de leão em suas calçadas.

*Esse trabalho foi inspirado pela obra "Fama e Anonimato", de Gay Talese.

Crônica: Priscila Pacheco e Laura Dourado
Vídeo: Renata Simond
Fotos: Jana Rodrigues, Laura Dourado, Patrícia Allerberger, Priscila Pacheco e Renata Simond

sexta-feira, 29 de março de 2013

Estamira, a lúcida sem lucidez


   Estamira Gomes de Sousa trabalhou por muitos anos no lixão Jardim Gramacho. Era uma mulher que apesar dos distúrbios mentais apresentava um discurso reflexivo capaz de gerar debates sobre a nossa sociedade. A catadora ficou conhecida por protagonizar um documentário que tinha o mesmo nome que ela. Morreu aos 70 anos por causa de uma infecção generalizada.

   Assista à Estamira


Por Priscila Pacheco


domingo, 17 de março de 2013

Pelos cinemas de Sampa


   Na última sexta-feira, 15 de março, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma pesquisa bastante interessante sobre os cinemas de São Paulo. Seis repórteres visitaram 59 cinemas na capital e Grande São Paulo. Lendo a pesquisa descobri que em cinemas de luxo servem comida durante a exibição do filme. 

   Como uma cinéfila assumida achei legal as poltronas super confortáveis, mas restaurante dentro da sala de cinema não rola. Imaginem o garçom circulando pela sala toda hora só para servir aqueles pratos chiquérrimos? Tudo pode até ser bem saboroso, mas é melhor deixar para depois do filme.

   Eu gosto mesmo é dos cineclubes. Eles não têm as poltronas do Cinépolis JK Iguatemi, mas têm outras qualidades. O CineSesc, por exemplo, tem um ambiente muito agradável. Na recepção você pode aguardar tranquilamente na recepção tomando café na bonbonnière, conversando nos confortáveis sofás, vendo uma exposição ou até lendo jornais e revistas que ficam disponíveis por lá. Sem contar que no CineSesc tem Cinema de Vela. 

   Vela? Como assim? É uma discussão sobre cinema que dura até a vela se apagar. A inspiração veio de uma roda de samba em que as pessoas cantam sambas novos de compositores que não são famosos. A roda termina junto com a chama da vela.

   Enfim, temos uma variedade enorme de bons cinemas em São Paulo que servem para diversos gostos. Se você tem dinheiro e não se importa com garçons circulando pela sala vá ao Cinépolis JK Iguatemi. Se prefere um Cineclube vá ao CineSesc, Centro Cultural Banco do Brasil (fui assistir a um filme indiano lá), Cinusp, Cinemateca Brasileira e por ai vai. 

Por Priscila Pacheco

segunda-feira, 4 de março de 2013

domingo, 3 de março de 2013

ONU realiza evento para discutir violência contra a mulher

Say NO - UNiTE


   Nesta segunda-feira (04/03) começa a 57ª Sessão da Comissão sobre a Condição da Mulher, nas Nações Unidas (ONU). O evento reunirá governos e ativistas de todo o mundo para discutir sobre como prevenir e finalizar a violência contra a mulher.

   Queria muito que essa comissão trouxesse o fim dos atos violentos que atingem o público feminino, mas diante da sociedade em que vivemos creio que esse desejo está muito distante. Talvez consigamos mais apoio e novas campanhas, mas não a extinção. Penso assim porque vivemos num mundo sexista em que o sexo masculino é posto acima do feminino em muitas sociedades.

   De qualquer forma vou acompanhar a comissão e torcer para que algo de positivo surja para pelo menos diminuir a situação drástica da mulher. 

Por Priscila Pacheco

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A arte de “voluntariar”

   Roberto Danieli fala sobre como o trabalho voluntário transformou a sua vida. Além disso, ele realça a importância e os desafios dessa atividade.



   Produção de Priscila Pacheco, Priscila Martins, Jéssica Torkos, Bruna Freesz, Byla Faria e Roberta Rodrigues.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Apresentações teatrais chegam aos hospitais públicos


   As ações de humanização são cada vez mais difundidas no ambiente hospitalar. Por isso não é estranho andar pelo hospital e encontrar palhaços, coral, orquestra e até assistir a uma peça de teatro. Enfim, a variedade de atividades é crescente.

   A reportagem a seguir fala sobre os benefícios dessas ações dando ênfase para a apresentação teatral. Confira!


   Reportagem realizada por: Priscila Pacheco, Jéssica Torkos, Gabriela Stampacchio e Bruna Freesz.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A arte da vida cotidiana


Johannes Vermeer é um dos grandes representantes da arte barroca presente nos Países Baixos. Vermeer (1632 – 1675) nasceu e morreu em Delft, Holanda, e se dedicou a pintar a vida cotidiana em ambientes interiores manuseando os efeitos da luz.

Uma de suas importantes obras fica exposta no MASP até o dia 10 de fevereiro. Trata-se da “Mulher de azul lendo uma carta”, que foi restaurada e já passou por Xangai, China. E deve ficar exposta em Los Angeles antes de retornar a Amsterdã e reabrir o Rijksmuseum. 


Por Priscila  Pacheco

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A solidariedade que pulsa no coração


Incrível como o meu fim de semana foi repleto de exemplos de solidariedade. Uma história no Hospital Grajaú, outras ao escutar a entrevista de uma pessoa que pratica ações voluntárias há muitos anos, e uma na palestra sobre o Caminho de Santiago. E por fim, assisti ao Matéria de Capa, transmitido pela TV Cultura, que apresentou uma reportagem sobre ações solidárias.

Na reportagem pude ver a garota que ainda criança arrecadou dinheiro para comprar comida para pessoas do Malawi. Os irmãos que ao verem a situação da população da Bósnia durante a guerra resolveram distribuir cobertores para os necessitados, e depois expandiram a ajuda para países da Ásia e África.

Enfim, os exemplos são inúmeros. Mas o que pulsa em nosso coração para a prática dessas atividades? A solidariedade. Simplesmente a solidariedade que é alimentada pela empatia, aquela que nos faz “perceber o que se passa no íntimo das pessoas”, e o Amor, o sentimento mais sublime que o ser humano pode sentir.

Será que podemos dizer que a solidariedade é filha do Amor e sobrinha da Empatia? Sei lá! Mas que ela pulsa no coração... pulsa e pulsa muito.

Por  Priscila Pacheco

domingo, 27 de janeiro de 2013

O fantasma que nos puxa em cada fotografia

Sebastião Salgado 1986 - Serra Pelada

   O que há por trás de uma fotografia? Uma simples representação? Creio que não. Ao visitar uma exposição que teve seu fim hoje, pude perceber quanta coisa há numa imagem. “Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação”, exposta no Instituto Tomie Ohtake, não apenas trouxe imagens que representavam a História brasileira, mas também reflexões sobre a nossa sociedade ao longo do tempo.

   Como diz Lilia Moritz Schwarcz, antropóloga e historiadora, “o fantasma presente na foto nos puxa pela mão”. Em minha visão o fantasma nos puxa em cada representação, na imagem dos escravos em cenários montados, das famílias castigadas pela seca nordestina. Aliás, ao analisar essas famílias pude perceber que elas não mudam com o passar do tempo. A expressão que aparece no começo do século XX é a mesma que vi ao assistir Vidas Secas, filme produzido na década de 1960, e a que vejo hoje no decorrer dos anos 2000.

Evandro Teixeira 1968 -  Ação Militar no Centro do Rio de Janeiro
       Enfim, seguimos para os índios, os homens que se sacrificaram em Serra Pelada, os que tiram o sustento do lixão. Vimos o contraste entre um condomínio de luxo construído ao lado da favela de Paraisópolis, o governo de Getúlio Vargas, o Golpe Militar de 1964, as paisagens paradisíacas da natureza brasileira, as diferentes religiões.

   Segundo a jornalista Simonetta Persichetti “a fotografia mostra os nossos preconceitos”. Para perceber essa questão bastava observar que havia muitas fotografias de escravos, mas que em nenhuma eles apareciam na senzala ou apanhando. Também pudemos ver os senhores de “boa família” em poses que representavam poder, muitas vezes com os escravos atrás. 

Zig Koch 2000 - Fortaleza N.S dos Prazeres
   Simonetta ainda questiona se nos sentimos representados naquelas fotos. Eu não sei o que responder. É difícil aceitar que o meu país diz progredir, mas ainda possui as mesmas vítimas da seca de muitas décadas atrás e que famílias permanecem retirando seus alimentos de lixões. Mas será que posso me sentir representada quando vejo as fotografias de pontos turísticos e festas típicas? Devo não enxergar que a sociedade tentou ignorar o sofrimento dos escravos negros? Só tentaram, pois observando com bastante atenção temos a capacidade de identificar o sofrimento, o medo, as sensações expressadas no olhar de cada fotografado.

   Boris Kossoy, curador da exposição, informa que há uma micro História em cada fotografia, e que esta é fonte de investigação e reflexão da História do Brasil. Sim! Precisei fazer duas visitas à exposição para ver com atenção todas as fotografias e enxergar essas micro Histórias. Assistir à mesa redonda em que Lilia, Simonetta e Boris participaram também foi importante para concluir que a nossa história está impregnada em cada imagem e que vários fantasmas nos puxam com força. Os fantasmas nos puxam para que vejamos o que foi, o que é e o que poderá ser o nosso Brasil.

Numo Rama 2001 - Sério Humanos 

Por Priscila Pacheco

domingo, 20 de janeiro de 2013

Chico Buarque, “Leite Derramado” e uma breve análise


   No dia 19 de junho de 1944 nasce, no Rio de Janeiro, Francisco Buarque de Hollanda, o famoso Chico Buarque. Filho do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvim, oriunda de uma tradicional família mineira, Chico pertence a uma linhagem que traz marcas na História do Brasil. Sua árvore genealógica é constituída por um poderoso senhor de engenho do nordeste, José Ignácio Buarque de Macedo, que se casou com a ex-escrava e analfabeta Maria José Lima. 

   Dessa união surgiram descentes, como o Conselheiro Antônio Buarque de Macedo Lima, ministro do Supremo Tribunal no Império; Conselheiro Manoel Buarque de Macedo, ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas no Império; Manoel Ciridião Buarque, educador; e por fim Sérgio Buarque de Hollanda, historiador e pai de Chico Buarque.

   Chico Buarque que é um importante compositor, cantor, teatrólogo e escritor, cresceu rodeado de intelectuais e artistas, por exemplo, Vinicius de Moraes. Mudou-se para São Paulo ainda criança, morou na Itália devido a um trabalho do pai, voltou para São Paulo e estudou no Colégio Santa Cruz, lugar em que apresentou sua primeira composição, Canção dos olhos. Assim, adentrou o mundo da música. Logo depois veio o teatro e a literatura.

   Ouça Canção dos olhos



   No mundo da literatura, Chico Buarque começou ao publicar crônicas no jornal do colégio Santa Cruz. Em 1974, lançou a novela Fazenda Modelo, uma alegoria representada por animais, como bois, que mostra a sociedade brasileira na época da ditadura militar. Nesse livro, Chico apresenta a dominação da sociedade num momento em que o dito milagre econômico tenta mascarar a realidade.

   Em 1979 é a vez da literatura infantil. O escritor mostra em Chapeuzinho Amarelo os temores infantis. Em seguida, vem A bordo de Rui Barbosa, que foi escrito na década de 1960, quando Chico deixava as aulas de arquitetura para compor Bossa Nova nos porões da FAU - USP. Todavia, os versos foram publicados somente em 1981. 

   Estorvo, de 1991, foi o primeiro romance e aborda a questão da identidade e solidão do protagonista num cenário constituído por devaneio e lucidez. Benjamim é o segundo romance publicado em 1995 e é uma narrativa policial. O terceiro, vem em 2003 com Budapeste, e novamente, mostra a questão da identidade. Mas, dessa vez, por meio do personagem José Costa, que voltando para ao Brasil, por um imprevisto, para em Budapeste. Assim, o enredo traz um envolvimento do personagem com a língua húngara e um caso extraconjugal com uma mulher da região. Estorvo, Budapeste e Leite Derramado são vencedores do Prêmio Jabuti de melhores livros do ano, respectivamente em 1992, 2004 e 2009. 

   Aquele, o quarto e último romance, Leite Derramado lançado em 2009, é caracterizado pela história de uma família marcada pela decadência social e econômica ao longo do final do século XIX e início do século XX até os dias atuais no Brasil. Através do personagem Eulálio Montenegro D’Assumpção, Chico Buarque utiliza como pano de fundo a história do país, para tratar a questão da memória histórica e oficial da nação, além das memórias particular do narrador. O enredo que estimula a reflexão traz à tona compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção e delinquência, que assolam a sociedade brasileira desde a sua formação até hoje. E tudo isso é apresentado pelas palavras de Eulálio, um homem de 100 anos de idade, doente num hospital, atormentado por momentos de devaneio e lucidez. Dessa forma, é possível dizer que o tema central da obra é o conjunto de memórias pessoais envolvidas no contexto histórico, político e social do Brasil.

   Veja a leitura que Chico faz de um capítulo de o Leite Derramado



   Tendo em vista a condição peculiar em que se encontrava o narrador e única voz do texto, ou seja, não havia ninguém para contrariá-lo ou contradizê-lo, destaca-se total parcialidade no seu discurso.
 “(...) nem tudo o que digo se escreve, você sabe que sou dado a devaneios. (...) Na velhice a gente dá para repetir casos antigos, porém jamais com a mesma precisão, porque cada lembrança já é um arremedo de lembrança anterior” (2009, p.136). 

   Discurso de um velho doente que relembra sua vida, do ponto de vista de um aristocrata decadente. 

   “Mesmo vivendo em habitação de um só compartimento, num endereço de gente desclassificada, na rua mais barulhenta de uma cidade-dormitório, mesmo vivendo nas condições de um hindu sem casta, em momento algum perdi minha linha” (2009, p.136).

   Mas, que deixa dúvidas na descrição de suas versões, uma vez que repeti, por inúmeras vezes, cenas de sua vida de modo diferente.

   “Ensinei-o a ler, arranjei-lhe uma bolsa de estudos no meu antigo colégio de padres onde meu nome ainda abria portas. (2009, p.125) (...) Eu o levava de calças curtas ao Senado, fiz fotografá-lo na tribuna de onde seu bisavô tantas vezes discursou. (2009, p.126) (...) Esse Eulalinho criei como se fosse um filho, ensinei-o a ler, matriculei-o no colégio de padres onde meu nome abria portas, fiz fotografá-lo de calças curtas o Senado. (2009, p.127) (...) Esse Eulalinho criei como se fosse um filho, ensinei-lhe a abrir portas, fiz fotografá-lo de calças curtas com padres vermelhos (...)(2009, p.127). 

   Nessa citação acima há que salientar que não é possível saber de qual Eulalinho está dizendo, visto que, ora fala de seu neto, ora de seu bisneto.

   Ainda, quando trata de reconstruir passagens da história do país o faz de modo particular, destacando momentos gloriosos das oligarquias dominantes do qual fazia parte. 

   “Vovô era mesmo um visionário (...). Conquistou o apoio da Igreja, da maçonaria, da imprensa, de banqueiros, de fazendeiros e do próprio imperador, a todos parecia justo que os filhos de África pudessem retornar às origens, em vez de perambularem Brasil afora na miséria e na ignorância. (...)” (2009, p.51). 

   E mesmo tendo perdido o status e o poder de sua família mantém a pose que o sustenta por argumentos que perpassam a história nacional. 

   “Pensou que fosse um congresso de mágicos, ao ver meu pai de cartola com ministros e embaixadores, na Exposição de Centenário da Independência. Então lhe expliquei que papai foi o político mais influente da Primeira República(...)”(2009, p.171).

   Com tudo exposto, torna-se iminente questionar se o discurso do narrador, delirante, parcial, passional e partidário, delineia versão fidedigna dos fatos narrados. Mesmo que por conhecimento geral é sabido que as referências históricas pela qual percorre a narrativa são reais. 

   É honesto o relato de um velho homem, doente, que nos conta em primeira pessoa suas memórias? E mais, não seria o contexto histórico, pano de fundo confiável, elemento para dar credibilidade a alguém com poucos créditos e assim, disfarçar ainda mais o delírio? Ou, tudo isso, seria recurso literário narrativo usado pelo autor para causar dúvidas ao leitor e deixar para esse o trabalho de juntar as peças de memórias tão fragmentas? 

Por Priscila Pacheco e Bruna Freesz

domingo, 13 de janeiro de 2013

O retorno da guitarra de Jimi Hendrix

   Uma chuva torrencial não conseguiu impedir o encerramento do festival de Woodstock, em agosto de 1969. Assim, Jimi Hendrix subiu ao palco e numa marcante apresentação que virou a noite, executou em sua guitarra o Hino Nacional Americano com direito a simulações dos ruídos de bombas e tiros de metralhadora.


   Ouça Star Spangled Banner



   Jimi Hendrix morreu um ano depois do evento, mas a música que difundiu continua viva. Tanto que no último dia 09 de janeiro foi lançada “Somewhere”, canção que junto com outras 11 integra o álbum “People, hell & angels”. Os fãs vão poder apreciar o disco completo a partir do dia 05 de março.

   Ouça “Somewhere”


Por Priscila Pacheco
  


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O Brasil é um dos países mais violentos para as mulheres


   
   Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) em média 70% das mulheres sofrem violência em alguma fase da vida. Tal ato pode ser de origem física, sexual, psicológica e econômica. Além de não estar restrita somente há uma região, cultura ou classe social. O que comprova que o problema vai além de países da África, Oriente Médio e outros da Ásia, como a Índia.

   O Brasil, por exemplo, aparece em sétimo lugar nas taxas de homicídio feminino numa relação de 84 países avaliados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2006 e 2010, como apresenta o Mapa da Violência 2012. O Mapa ainda mostra que 68,8% das vítimas foram agredidas na própria residência. E que 42,5% das agressões foram realizadas pelo atual parceiro ou ex.

   Esses dados confirmam a ideia de que o Brasil precisa avançar bastante na defesa dos direitos das mulheres, apesar de já possuir uma Lei como a da Maria da Penha (lei 11.340/2006). É de extrema importância que haja o combate do machismo e da misoginia* para que crimes como estes não sejam tolerados. E para que as mulheres além de viverem em segurança não sejam humilhadas e consideradas culpadas por algo que são vítimas. 


   *Misoginia: Ódio ou desprezo ao sexo feminino. Algo que vai além do machismo, pois este está relacionado à superioridade masculina e não ao ódio.

Por Priscila Pacheco

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Índia, Congo, Tunísia e Haiti: quatro lugares diferentes e o mesmo problema

Protesto contra a violência que persegue as mulheres

   No último dia 28 de dezembro morreu uma jovem indiana que sofreu um estupro coletivo dentro de um ônibus, em Nova Déli. A moça que já tinha passado por três cirurgias na Índia chegou a ser transferida para um hospital de Cingapura, mas os graves ferimentos não permitiram que ela continuasse a viver. Segundo o site de notícias da BBC, a indiana “foi violentada durante uma hora por diversos homens e depois ela e um amigo foram espancados com barras de ferro e expulsos do ônibus nus”.

   Essa é apenas mais uma das notícias sobre estupro que tive acesso ao longo de 2012. Em julho, por exemplo, a jornalista Eliane Brum relatou a situação das mulheres do Congo, por meio da história de Marie Nzoli que era violentada pelo marido. No artigo Eliane informa que no Congo o estupro é uma arma de guerra, e as mulheres contaminadas por HIV são usadas como armas biológicas.

   O portal Estadão publicou em outubro o caso de uma mulher estuprada por policiais na Tunísia, que quando fez a denúncia foi acusada de indecente. Ainda nessa questão de denúncia o portal divulgou em dezembro a situação de mulheres haitianas que são vítimas desse tipo de violência e encontram dificuldades na hora da denúncia, tanto que até desistem do processo.   

   Enfim, essas notícias mostram como as mulheres ainda são desrespeitadas e desvalorizadas por algumas pessoas em todo o mundo. 

Por Priscila Pacheco

Uma reflexão além do holocausto: o Amor materno


   Ano passado relatei numa postagem do Facebook o que estava sentindo após assistir a alguns relatos dos sobreviventes do Holocausto. Eu disse que ao ver Michel Dymetman adentrando o auditório da Livraria da Vila senti algo diferente. E que ao escutar ele contando a história dando ênfase a procura pela mãe comecei a pensar em todas as mães do holocausto. 

   Refleti sobre o sofrimento das mães que eram separadas de seus filhos. Pensei: como elas ficavam ao saberem que suas crianças estavam próximas da morte pelas circunstâncias da guerra? E o que elas sentiam quando estavam caminhando rumo à câmara de gás sabendo que suas crianças ficariam desamparadas sem ninguém para cuidar delas? Imaginem a dor terrível que sufocou o coração delas.

   Diante disso decidi que leria o livro que Michel escreveu sobre todos os anos que passou nos campos de concentração. “Anos de lutas: Relato de um sobrevivente do holocausto” não trouxe a mesma emoção que as palavras proferidas diretamente por Michel na palestra. Mas não deixou que as reflexões ficassem de lado. Dessa vez passou pela minha cabeça a crueldade humana, não apenas a dos nazistas, mas a de qualquer ser humano que pensa em destruir o outro. Lembrei-me do livro de tzvetan Todorov, “A conquista da América: a questão do outro”, pela questão de um grupo se sentir superior ao outro, pelo uso da força para destruir a cultura e roubar a riqueza do próximo. 

   Todavia, ao terminar de ler Anos de lutas, a questão materna voltou a dominar a minha mente. Michel disse que na última vez que viu a mãe ela estava sendo transferida de campo de concentração, e que durante a partida ela jogou do veículo em que estava uma malha para ele. Aquela mãe estava indo para um lugar muito frio, mas preferiu deixar para o filho a única malha que tinha. Assim, lembrei-me de uma cena que presenciei num sábado pela manhã há alguns anos. Em frente ao Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas, uma mulher chorando abraçava um travesseiro. Ao olhar para aquela mulher senti uma empatia imensa. Não sabia se estava chorando pela morte ou pelo estado grave que alguma criança se encontrava. Talvez não fosse a mãe, mas uma tia, por exemplo. No entanto, não deixei de sentir a dor que ela expressava nos gestos e nas lágrimas.

   Para mim essas duas cenas estão relacionadas por causa da despedida, do medo de perder alguém muito importante e pelo imenso sofrimento. Michel nunca voltou a ver a mãe, não conseguiu descobrir quando, como nem onde ela morreu. E eu nunca mais voltei a ver a mulher do travesseiro mesmo passando todos os dias por aquele lugar. Não sei se a pessoa por quem ela chorava morreu mesmo ou se sobreviveu. E a mãe de Michel? Deve ter morrido com a esperança de que o filho conseguisse se salvar.    

Por Priscila Pacheco