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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A ciência trabalha para produzir uma vacina contra o Alzheimer, mas os resultados podem demorar a aparecer

   Muitos estudos são realizados para prevenir a doença de Alzheimer, mas os resultados não devem surgir tão cedo. Pois ainda “são necessários muitos avanços e experimentos”, conta o Dr. Gilberto Xavier. Na última parte da entrevista o cientista explica o que o Alzheimer é para a neurociência e que na doença de Parkinson os sintomas cognitivos aparecem antes dos motores.

O que a neurociência pode dizer sobre a doença de Alzheimer? 
A doença de Alzheimer é uma síndrome que envolve várias alterações no sistema nervoso. Uma delas é perda de neurônios em uma região do cérebro chamado Córtex. Outra região que perde muitos neurônios é o Prosencéfalo Basal. Essa é uma região que tem neurônios que produzem uma substância química neurotransmissora chamada acetilcolina. Se falta acetilcolina* no cérebro, o indivíduo tem dificuldade na memória. A doença é “tratada” – na verdade ela não é tratada -, mas ela seria tratada dando substâncias como acetilcolina, então não é um tratamento, é um paliativo. Você está tratando o sintoma, não a doença. A doença é a perda de neurônios. Você teria que saber qual é o motivo da perda desses neurônios e tentar evitar que ela ocorra. 

Existem estudos sobre vacinas para prevenir a doença de Alzheimer? 
Sim. Existem estudos nesse sentido e “n” outras doenças neurológicas no caso. Porém, não verei isso funcionar. Talvez vocês vejam, mas eu não. 

Os estudos não estão avançados por conta da política, por falta de interesse ou por que ninguém bota fé? 
As pessoas botam fé sim, tanto é que tem dinheiro para pesquisar esse tipo de coisa. Depende de muitos avanços e experimentos. Por exemplo: essa epidemia de AIDS começou há muito tempo e se tornou mais coisa de mídia no final da década de 80. Naquela época se falava que em cinco anos nós teríamos uma vacina contra AIDS, mas não temos até hoje. São 33 anos. Por isso estou dizendo que, provavelmente, não vou ver uma vacina contra Alzheimer. 

Um estudo científico sempre é feito com contribuição do passado? 
Sempre. Na ciência, sempre. Ninguém faz ciência sozinho. Falo até uma frase minha, que sempre uso: “Ciência é um empreendimento coletivo”. Não existe o negócio de que um grande cientista inventou tudo sozinho. Dependo de pessoas que vieram antes de mim, que desenvolveram ideias. E descobriram coisas para eu criar os raciocínios, para eu tentar solucionar certo problema e usar isso para ir adiante. É um ato de produção de cultura, e cultura é uma coisa que é transmitida de geração para geração. Eu aprendi com as pessoas que me antecederam e estou ensinando para as pessoas que vão me suceder que são meus alunos. 

Tem um trabalho seu sobre a progressão da doença de Parkinson. Quais foram os resultados desse estudo?
É, na verdade estamos falando de um estudo que foi publicado há pouco tempo. Foi desenvolvido por um aluno meu que já concluiu doutorado. E acho que a contribuição maior desse trabalho é mostrar que, antes de aparecerem os sintomas motores, que são os mais valorizados na doença de Parkinson, os sintomas cognitivos já começaram anos antes. Então até isso pode ajudar no diagnóstico da intervenção para postergar o aparecimento da doença.

*Acetilcolina é um neurotransmissor que contribui com o desempenho da memória.

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