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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

“Algumas drogas podem favorecer a memória, mas eu jamais tomaria”, diz neurocientista

   Eu precisava entrevistar um cientista para o trabalho de jornalismo científico. Melhor dizendo: Eu e o meu grupo. Numa busca incessante passamos por morte súbita, anorexia em adolescentes, sustentabilidade, poluição x aparelho respiratório e por fim chegamos à neurociência. Pois o Dr. Gilberto Fernando Xavier aceitou nos dar a entrevista.

   Mas o que pensamos quando escutamos a palavra neurociência? É algo distante de nós? Complicado? A princípio o termo pode parecer difícil, mas distante com certeza ele não é. A neurociência traz estudos importantes de diversos fatores que fazem parte do nosso dia- a- dia. Numa conversa mais que interessante o Dr. Gilberto conseguiu transmitir essa proximidade.

   Pesquisador da área de atenção e memória, no laboratório de neurociência e comportamento da USP, Dr. Gilberto fala sobre imaginação, intuição feminina, Alzheimer, Parkinson, consumo de medicamentos para memória, e sobre o fato de o cérebro do homem ser capaz de aprender qualquer coisa independente da idade. 

   Para o post não ficar muito longo resolvi dividir o tema. Comecemos!

Até que ponto a perda de memória na velhice é normal?
É normal. O que acontece é que ao longo do desenvolvimento humano, a partir do momento em que a gente é concebido como pessoa, começam a se dividir células. Hoje, sabe-se que continuamos a produzir células nervosas até a fase adulta e também perdemos alguns neurônios dependendo do grau de estimulação que recebemos do ambiente. O fato é que ocorrem outras alterações no sistema nervoso e a perda de células ao longo do envelhecimento nem é a coisa mais importante. Se a pessoa tiver um envelhecimento saudável, ela vai ter uma perda de um tipo específico de memória que é a operacional, um tipo memória de curta duração. O sistema nervoso que é uma estrutura bastante plástica, flexível, se molda de acordo com o estímulo que recebe do ambiente. Quanto mais a pessoa usa a atividade intelectual mais ela mantém o funcionamento do sistema nervoso intacto. É como fazer exercício físico; se você quer manter seu corpo fisicamente bem, tem que manter uma regularidade de atividade física. Do ponto de vista neural é a mesma coisa. Se você quer se manter intelectualmente bem tem que manter a atividade intelectual.

Isso quer dizer que a memória de uma pessoa alfabetizada é mais afiada do que a de um analfabeto?
Com certeza. Não só mais afiada, como maior. A extensão da memória operacional é maior. E a pessoa preserva a capacidade intelectual por mais tempo. Tudo isso em um envelhecimento saudável. 

O envelhecimento saudável é o mais raro?
O problema é que hoje têm aparecido muitas doenças neurológicas provavelmente relacionadas ao fato de que o ser humano está vivendo mais. Há dois, três séculos atrás, o ser humano vivia até os 40 anos. Hoje, por conta da questão de alimentação, saúde, vacinas e avanços da medicina, você consegue viver até os 70, 75 anos. A expectativa de vida média do brasileiro. Então, uma pessoa que chega nessa idade tem maior chance de ter doença. 

A memória está associada à imaginação?
Definitivamente. A imaginação é fruto da memória. Então, como a gente imagina coisas tão diferentes? Provavelmente por combinação de diferentes memórias e extrapolação. Extrapolação é quando não se precisa da informação se percebe a regra que está sendo usada e você consegue antecipar algo que pode acontecer. É por isso que a gente consegue imaginar coisas que nunca viveu, usando da memória para gerar extrapolações. 

Remédios para memória funcionam?
Algumas drogas podem favorecer a memória, mas eu jamais tomaria. O cérebro é uma estrutura que tem uma química extremamente complexa. E ela se autorregula. Se você desequilibra essa química usando um agente externo, consequentemente, o cérebro que é uma estrutura plástica vai alterar sua função. Ele altera a função para se adaptar a presença daquela substância. Você está criando uma estrutura que funciona de forma diferente.  Se você tira a substância terá uma síndrome de abstinência. 

Medicamentos psiquiátricos e remédio para emagrecer.  São muitos prejudiciais à saúde e memória?
Depende do medicamento. Os remédios para emagrecer, geralmente são anfetaminas e podem trazer consequências graves, inclusive sobrecarga cardíaca. Eu não aconselharia. 

O desenvolvimento do cérebro é infinito?
Infinito. Uma pessoa com 80, 90 anos consegue aprender a tocar piano, por exemplo. Vai lá, treina e aprende.

Um Jovem consegue reter mais informações. Por quê?
Porque a flexibilidade, a plasticidade nervosa do jovem é maior. 

   No próximo post falaremos sobre intuição, Alzheimer e Parkinson.

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