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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Uma reflexão além do holocausto: o Amor materno


   Ano passado relatei numa postagem do Facebook o que estava sentindo após assistir a alguns relatos dos sobreviventes do Holocausto. Eu disse que ao ver Michel Dymetman adentrando o auditório da Livraria da Vila senti algo diferente. E que ao escutar ele contando a história dando ênfase a procura pela mãe comecei a pensar em todas as mães do holocausto. 

   Refleti sobre o sofrimento das mães que eram separadas de seus filhos. Pensei: como elas ficavam ao saberem que suas crianças estavam próximas da morte pelas circunstâncias da guerra? E o que elas sentiam quando estavam caminhando rumo à câmara de gás sabendo que suas crianças ficariam desamparadas sem ninguém para cuidar delas? Imaginem a dor terrível que sufocou o coração delas.

   Diante disso decidi que leria o livro que Michel escreveu sobre todos os anos que passou nos campos de concentração. “Anos de lutas: Relato de um sobrevivente do holocausto” não trouxe a mesma emoção que as palavras proferidas diretamente por Michel na palestra. Mas não deixou que as reflexões ficassem de lado. Dessa vez passou pela minha cabeça a crueldade humana, não apenas a dos nazistas, mas a de qualquer ser humano que pensa em destruir o outro. Lembrei-me do livro de tzvetan Todorov, “A conquista da América: a questão do outro”, pela questão de um grupo se sentir superior ao outro, pelo uso da força para destruir a cultura e roubar a riqueza do próximo. 

   Todavia, ao terminar de ler Anos de lutas, a questão materna voltou a dominar a minha mente. Michel disse que na última vez que viu a mãe ela estava sendo transferida de campo de concentração, e que durante a partida ela jogou do veículo em que estava uma malha para ele. Aquela mãe estava indo para um lugar muito frio, mas preferiu deixar para o filho a única malha que tinha. Assim, lembrei-me de uma cena que presenciei num sábado pela manhã há alguns anos. Em frente ao Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas, uma mulher chorando abraçava um travesseiro. Ao olhar para aquela mulher senti uma empatia imensa. Não sabia se estava chorando pela morte ou pelo estado grave que alguma criança se encontrava. Talvez não fosse a mãe, mas uma tia, por exemplo. No entanto, não deixei de sentir a dor que ela expressava nos gestos e nas lágrimas.

   Para mim essas duas cenas estão relacionadas por causa da despedida, do medo de perder alguém muito importante e pelo imenso sofrimento. Michel nunca voltou a ver a mãe, não conseguiu descobrir quando, como nem onde ela morreu. E eu nunca mais voltei a ver a mulher do travesseiro mesmo passando todos os dias por aquele lugar. Não sei se a pessoa por quem ela chorava morreu mesmo ou se sobreviveu. E a mãe de Michel? Deve ter morrido com a esperança de que o filho conseguisse se salvar.    

Por Priscila Pacheco

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