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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Vai pra onde? O futuro do jornal impresso – Parte final




Em virtude dos questionamentos relacionados ao futuro do jornal foi realizada uma pesquisa com 62 jornalistas dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro (os dois maiores mercados jornalísticos do Brasil).  Para todos os profissionais foi feita a seguinte pergunta: “Você acha que o jornal impresso poderá ser extinto por causa do crescimento da internet”? Os 62 profissionais estão empregados em veículos pequenos, médios e grandes. As entrevistas foram realizadas pessoalmente, por telefone e e-mail.

Muitos profissionais da área expressam opiniões que lembram o tema central de Apocalípticos e Integrados, livro escrito por Umberto Eco na década de 1970. Assim, foi possível classificar as respostas em três grupos. Aqueles que estão crentes que a mídia impressa será extinta são os Apocalípticos, 10 dos que responderam a questão. Já os que acreditam que o jornal resistirá aos adventos da informática são os Integrados. Esses são maioria, pois totalizam 47 jornalistas. E há, ainda, um terceiro: os Moderados, que contam com apenas 5 respostas.

No grupo dos integrados estão presentes aqueles que acreditam na permanência do jornal mesmo com o advento da internet. Um argumento bastante utilizado por estes defensores é de que o jornal deve modificar-se.  Dentre as modificações citadas estão: a interatividade com as outras mídias, principalmente a internet; o conteúdo deve ser mais analítico e aprofundado; a distribuição do conteúdo deve passar por reajustes; a diagramação deve ser atraente.

Outros pontos defendidos pelos integrados são os de que a internet possui agilidade na veiculação das notícias, mas não apresenta profundidade na abordagem dos assuntos nem são completamente confiáveis, principalmente por causa da velocidade das publicações; as tecnologias portáteis, como tablets e smartphones ainda não estão completamente difundidas, o preço dos aparelhos é elevado assim como o acesso à internet. Já o impresso, para eles, tem poder de ser um documento muito importante com o potencial de registrar a história de uma cidade, em especial as que ficam no interior dos estados, e a informação no papel tem mais credibilidade.

Para o repórter do jornal O Dia, Geraldo Perelo, as mídias eletrônicas, em tempo real, não têm condições de oferecer uma informação mais cuidadosa e elaborada por causa do imediatismo.

“É comum a “barrigada” (informações erradas, não checadas) em portais de informação, em tempo real, exatamente pela falta de tempo para apuração dos fatos. O jeito é fazer as correções necessárias, de tempo em tempo, para ir situando o internauta, o expectador ou o telespectador, aos poucos. O jornal, por sua vez, usa o tempo disponível para esmiuçar (investigar, analisar) repercutir, desdobrar, incrementar, ilustrar (com fotos, infografia etc) a informação, de forma a dar melhor subsídios à formação de opinião. O leitor do jornal não quer mais saber que o prédio desabou; isto, ele já tomou conhecimento pela internet, rádio e televisão. Ele vai comprar o jornal no dia seguinte para saber, “por quê?”– a obra foi mal feita, faltou fiscalização da prefeitura etc, informação que geralmente resulta de um trabalho mais detalhado, repito, mais investigado.”, diz Geraldo.

Já o jornalista do O Estado de São Paulo, Roberto Godoy, pensa que os jornais impressos terão vida longa e próspera, mas terão de ser mais inteligentes e possuir diferenciais em relação às plataformas eletrônicas. “Circulação menor, preço maior, conteúdo analítico, feito por profissionais de elevada capacidade para atender a demanda de leitores qualificados – essa é a fórmula.”, afirma Roberto Godoy.

O jornalista da Folha de São Paulo, Cristiano Cipriano Pombo, acredita que sempre haverá adeptos do papel e que o jornalista atual precisa estar preparado para trabalhar nos dois campos. Cristiano também aponta que a Folha de São Paulo produz o Projeto Gráfico, que apresenta produtos novos para o jornal com o intuito de atrair o leitor. Por exemplo, hoje a Folha está mais colorida e com letras maiores.

Um dos expoentes do grupo dos Moderados é o editor assistente de O Estado de São Paulo, Ivan Marsaglia, que argumenta que não é a internet que ameaça a existência do jornal impresso. Segundo ele, “... é preciso aguardar para ver”.

O grupo dos apocalípticos também não integrou muitos adeptos. Os poucos, 10 jornalistas, que acreditam no fim do jornal usaram como argumento o crescimento da internet, em especial, o fato de esta ser um ambiente relativamente mais livre e anárquico, além da praticidade e da capacidade de seleção que o leitor possui no mundo virtual, bem como a agilidade na veiculação das notícias.

O repórter fotográfico do jornal O Globo, Marcos Alves, acredita que além da tecnologia há a questão ecológica, pois para a produção do papel usado no jornal impresso há o uso de celulose e água.

Já o repórter do O Estado de São Paulo, Carlos Lordelo, pensa que a internet não será a única responsável pela extinção do jornal impresso, pois estão surgindo equipamentos cada vez mais sofisticados e a nova geração já nasce acostumada a ler telas de computador. Além disso, o meio digital permite a utilização de podcasts, vídeos e extensas galerias de imagens, algo impossível no jornal impresso. 

O repórter e colunista da Folha de São Paulo, Rodrigo Bueno, argumenta que o jornal em papel ocupa mais espaço físico, é relativamente caro, tem alcance e tamanhos limitados e não é um produto dos mais ecologicamente corretos. Podendo um dia acabar se continuar da maneira como é visto hoje.

* O conteúdo desse post e dos três anteriores foi apresentado no congresso nacional da Intercom, em Recife, no ano de 2011.



Por Priscila Pacheco

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