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domingo, 11 de novembro de 2012

Eis a nossa América Latina



Antes da dominação europeia, a América era habitada por civilizações que tinham um organizado sistema político, econômico e social. Os Astecas localizados no atual sul dos EUA e Norte do México; Maias, no sudeste do México e grande parte da América Central; e Incas, no Altiplano Andino.

Os Astecas possuíam um império teocrático militar, sociedade estamental e economia baseada no modo de produção asiático. Usavam como moeda o cacau e a religião era politeísta, animista e zoomórfica, com sacrifícios humanos para acalmar os deuses e garantir boas colheitas. Culturalmente deixaram importantes conhecimentos de engenharia, arquitetura, astrologia, arte plumária, matemática, ourivesaria e astronomia.

Os Maias também tinham sociedade estamental, religião politeísta, animista e zoomorfista com sacrifícios humanos e usavam cacau como moeda. Uma das grandes contribuições que deixaram foi a descoberta do número zero. Já os Incas possuíam uma sociedade hierarquizada e formavam uma das civilizações mais complexas e poderosas da História.

A chegada dos espanhóis modificou todas essas estruturas. Eles destruíram muitas obras importantes das civilizações existentes, dividiram a região em vice-reinos para ter maior controle, escravizaram e dizimaram os indígenas, e exploraram as riquezas. A colonização espanhola foi a responsável pela dependência econômica, ascensão dos latifúndios, monocultura e desigualdade social de grande parte da América Latina. Essa colonização teve início em 1492 e perdurou até meados do século XIX, quando começaram os movimentos de independência.  No entanto, mesmo independente a América Latina nunca se livrou das marcas da exploração. 

Em meio aos conflitos pela independência surgiu a Doutrina Monroe, aprovada pelo Congresso norte-americano em 1823. Com o lema “A América para os Americanos”, a Doutrina defendia que o continente americano não poderia ser recolonizado e que os países europeus não deveriam intervir nos negócios da América. Dessa forma, os EUA também não interveriam nos negócios pertinentes aos países europeus.

No século XX o expansionismo dos EUA se aprofundou na América. O comércio, as grandes empresas multinacionais, o fluxo de capital e as influências culturais adentraram os países latino americanos sem a ideia de partir. Em 1946 o Departamento de Defesa americano instituiu a Escola das Américas. Tal escola ensinava em seus treinamentos métodos para forçar confissões, torturas e atemorização psicológica. Milhares de oficiais das forças armadas e das polícias da América Latina passaram por essas aulas. E assim, surge a ideia de segurança nacional.

Já em 1947 os EUA criaram o Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca, o TIAR, com a intenção de fazer o rompimento diplomático entre América Latina e URSS. E em 1948 ocorreu a fundação da Organização dos Estados Americanos, a OEA.

Cuba é um importante exemplo de dominação norte-americana, pois ao tornar-se independente da Espanha, em 1898, permaneceu sob tutela dos EUA. O país possuía uma instituição política bastante instável, o que facilitou o golpe de Estado comandado por Fulgêncio Batista, às vésperas de uma eleição presidencial, em 1952. O poder de Fulgêncio não agradou certos integrantes da população cubana. E assim, surge um movimento armado contra a ditadura, que era liderado pelo advogado Fidel Castro. Em 26 de julho de 1953, Fidel comanda um ataque ao quartel mais importante do país, La Moncada. No entanto, o ataque fracassou e Fidel foi preso, mas em 1955 Fulgêncio anistiou vários presos, entre eles, Fidel.

Em liberdade Fidel exilou-se no México e com pessoas que tinham os mesmos planos começou a preparar uma nova luta contra a ditadura. Retornou a Cuba em 1956 num barco carregado de armas para iniciar o confronto militar. Todavia, fracassou novamente. E junto com alguns sobreviventes do combate, entre eles, o seu irmão Raúl e o médico argentino, Ernesto “Che” Guevara, foi para a Sierra Maestra e começou a guerrilha. O movimento cresceu, ganhou forças e apoio popular conseguindo, em 1959, entrar em Havana após a queda de Fulgêncio.

Manuel Urritia Manzano assumiu a presidência, Fidel tornou-se primeiro ministro e alguns de seus companheiros também ocuparam cargos ministeriais. O fuzilamento dos “inimigos” da revolução; as reformas urbanas, como o decrescimento dos preços dos aluguéis, livros escolares e tarifas de eletricidade; e a reforma agrária; Desagradaram os moderados de Cuba e o governo dos EUA.

Os EUA começaram a pressionar Cuba economicamente e cortaram fornecimentos, entre eles o de petróleo. Em 1960 Cuba começa a importar petróleo da URSS, mas as refinarias se recusaram a refinar o produto, pois eram de propriedade norte-americana e britânica. Essa ação fez com que Cuba nacionalizasse as refinarias, e em contrapartida os EUA suspenderam a compra de açúcar cubano. Em 1961 John Kennedy autorizou a invasão militar do país pelos exilados cubanos treinados por militares norte-americanos.

Já em 1962 aconteceu a famosa “Crise dos Mísseis”, em que Kennedy bloqueou Cuba, ameaçando invadi-la alegando que os soviéticos haviam instalados mísseis nucleares na ilha. No entanto, um acordo entre os EUA e a URSS determinou a retirada dos tais mísseis. Esse acordo não mudou o bloqueio econômico e político de Cuba decretado pelos EUA. Fidel esteve no comando do país por muitas décadas até passar o posto para o irmão Raul. Atualmente Cuba aparece bastante na mídia principalmente por causa das notícias de presos políticos, saúde de Fidel e reformas. Em relação às reformas parece que Cuba não passará por grandes mudanças enquanto Fidel estiver vivo, afinal, ele deve ter influências sob o comando do irmão.

Na década de 1960 os EUA puseram em prática a Aliança para o Progresso. Eles argumentavam que a Aliança tinha o intuito de ajudar a acelerar o desenvolvimento econômico dos países latinos. Assim, concederam ajuda financeira, realizaram reformas sem alterar a estrutura econômica, implantaram o neoliberalismo e nessa “bondade” patrocinaram golpes militares.

Um desses patrocínios pode ser visto no Chile, pois em 1970, Salvador Allende, integrante da Unidade Popular, assume a presidência do país. Em seu governo Allende nacionalizou as minas de cobre e as telecomunicações, estatizou o sistema bancário, as indústrias têxteis e siderúrgicas. Também iniciou a reforma agrária e a liquidação de monopólios estrangeiros. 

Essas medidas desagradaram o empresariado, que começou a reduzir os investimentos no Chile causando queda nas produções e crescimento da inflação. Os EUA também não estavam satisfeitos com a as mudanças, e começaram a financiar a oposição, afinal elas eram medidas socialistas. Também suspenderam totalmente os empréstimos, depreciaram internacionalmente o preço do cobre e apoiaram o golpe das Forças armadas comandadas por Augusto Pinochet, que aconteceu no dia 11 de setembro de 1973. Após o golpe os EUA continuaram apoiando Pinochet, e há informações que o Tio Sam manteve operações secretas da CIA no Chile entre 1962 e 1975. As operações tinham a função de impedir a eleição de Allende, desestabilização do governo e assassinato de chilenos apoiadores de Allende. E claro, apoiar o golpe e a ditadura de Pinochet.

A América Latina também foi dominada por governos populistas, isso logo na primeira metade do século XX, que eram compostos por líderes carismáticos que tentavam agradar tanto o povo quanto quem tinha poder. O populismo promoveu o crescimento da industrialização e o enfraquecimento das oligarquias, como aconteceu no Brasil na época de Getúlio Vargas, mas em compensação promoveu uma ideologia que transformava o povo em massa. Essa questão é um pouco longa, logo, merece um post especial.

Enfim, eis a nossa América Latina.

Por Priscila Pacheco

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