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sábado, 29 de setembro de 2012

O breve século XX segundo Eric J. Hobsbawm


Eric J. Hobsbawm
Eric J. Hobsbawm nasceu em 1917, no Egito, e estudou em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. Além de ter nascido num ano marcante, época da Revolução Russa e meados da Primeira Guerra Mundial, Hobsbawm viveu na Áustria e Alemanha quando estas sofriam com a crise econômica oriunda da Guerra citada. Foi comunista a maior parte de sua vida, e segundo o pesquisador Afonso Carlos Marques dos Santos, “aquele que soube aliar, nas suas sínteses interpretativas, a precisão do conhecimento econômico e político às manifestações do pensamento e da arte, sabendo manter vivo um outro importante legado das ideias socialistas, a preocupação com o humano num sentido plural.”.

Hobsbawm expressou seus estudos e ideias em vários livros, entre eles o quarteto que pode explicar os acontecimentos do século XX. “A Era das Revoluções” foi o primeiro desse grupo, e trouxe em seu conteúdo as Revoluções Francesa e Industrial, no entanto, mais que apenas relatar os fatos ele analisou as modificações que essas Revoluções causaram nas sociedades de diversos lugares. Logo depois veio “A Era do Capital”, que discorreu sobre o período entre a “Primavera dos Povos”, triunfo do capitalismo, surgimento da sociedade de massa e avanço da economia industrial. “A Era dos Impérios” veio depois mostrando a criação dos grandes impérios europeus antes da Primeira Guerra Mundial, e também apresentou as mudanças na cultura e nas artes.


“A Era dos Extremos: o breve século XX” fechou o quarteto analisando as catástrofes que tornaram o século XX um período sangrento e problemático. Além de também discutir a “desmemória” histórica na sociedade. E nesta mesma linha e desejo de reflexão também existe um documentário produzido pelo brasileiro Marcelo Masagão. A obra nomeada como “Nós que aqui estamos por vós esperamos” foi lançada em 1999.

Nós que aqui estamos, por vós esperamos
O documentário é rico em imagens de arquivos e extratos de algumas obras famosas do cinema, por exemplo, Tempos Modernos, de Charles Chaplin. O seu conteúdo é constituído por uma retrospectiva dos principais acontecimentos que marcaram o século XX, como a alienação dos trabalhadores operários, as guerras, a quebra da Bolsa em 1929, as mudanças no estilo e hábitos femininos e até a extração aurífera, em Serra Pelada. 

Entretanto, mais que mostrar personagens famosas a produção apresenta homens comuns que em seu cotidiano também fizeram a história. Com uma trilha sonora envolvente, Masagão mostra tanto a imagem de homens famosos, como Freud, até o soldado morto na guerra e o simples homem que nunca tinha visto uma tevê.

Confira o documentário completo



O que marcou o começo do século XX foi a Primeira Guerra Mundial deflagrada pelo assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e de sua esposa grávida. Esse momento é bem explicado no documentário “Assassinato do Arquiduque Ferdinando”, produzido pela BBC. A produção apresenta um grupo de homens que não se conforma com a exploração que o império Austro-húngaro faz a Sérvia sofrer, e aliado com o governo planeja o assassinato do arquiduque. Os altos impostos cobrados, a fome e as barreiras para o expansionismo são algumas das questões que fizeram com que a população e o governo sérvio desejassem a vingança.

Após o acontecimento o Império declara guerra à Sérvia e outras nações acabam se envolvendo, por exemplo, Rússia, Grã-Bretanha, França e Alemanha. Os anos seguintes ainda vão contar com a Revolução Russa, ascensão dos regimes totalitários e a Guerra civil espanhola.  

Os regimes totalitários surgiram com força na Itália, Portugal, Alemanha, Áustria e Espanha. Eles foram marcados por governos únicos e centralizadores, censura extrema e utilização da propaganda. Na Espanha o representante desse regime foi o General Francisco Franco. E o país se dividiu entre os fascistas, aliados ao exército, igreja e latifúndio, e a Frente Popular, formada por sindicatos e partidos de esquerda. Assim, com as diferenças de posicionamento a Espanha entrou numa guerra civil, em 1936. 

O conflito foi bastante intenso e o General Franco contou com o apoio da Alemanha e da Itália. Inclusive, a Alemanha foi responsável pelo bombardeamento da cidade de Guernica, tema de um mural de Picasso. Mas a oposição também não ficou sozinha na Guerra, pois voluntários esquerdistas de várias partes do mundo foram para a Espanha combater em defesa da República espanhola. Eles formaram as Brigadas Internacionais.

Guernica
  
As Brigadas possuíam muitos intelectuais, entre eles, Ernest Hemingway, George Orwell, André Malraux, Simone Weil, e o brasileiro Apolônio de Carvalho. E sobre Apolônio foi feito no Brasil um documentário chamado “Vale a pena sonhar”, a produção mostra como Apolônio era um visionário que acreditava na vitória de seus ideais. Tanto que além de ir para a Espanha, Apolônio também lutou na Resistência Francesa e depois contra a Ditadura Militar brasileira. O documentário possui depoimentos da esposa e filhos de Apolônio, e de integrantes das Brigadas Internacionais e da Resistência Francesa. 

                  Trecho do documentário "Vale a pena sonhar"



Outro exemplo forte de regime totalitário é o Nazismo, na Alemanha, que surgiu numa época em que o povo alemão sofria por problemas existentes desde a derrota da Primeira Guerra Mundial, as restrições do Tratado de Versalhes, e a queda da Bolsa de 1929. Ao assumir o cargo de Chanceler, em 1933, Adolf Hitler cria o regime totalitário colocando os alemães como seres superiores, por meio de discursos ufanistas. 

A forte propaganda foi essencial para que Hitler conseguisse muitos seguidores. Na época não havia televisão, mas os jornais, rádio e cinema foram suficientes para levar a mensagem nazista à população. Um exemplo de propaganda é o documentário “O Triunfo da Vontade”, produzido por Helene Amália Bertha Riefenstahl, mais conhecida como Leni Riefenstahl.

O filme retrata um congresso do partido Nazista, ocorrido em Nuremberg, Alemanha. E mostra Hitler como o protagonista, o messias que veio para salvar. Já o povo alemão é representado por jovens saudáveis, fortes, limpos e brancos, verdadeiros exemplos de arianos. Um povo sem judeus, ciganos, homossexuais, comunistas e deficientes. O documentário deixa claros os princípios nazistas e a força que a propaganda possuiu para sua existência. 

Trecho de "O Triunfo da Vontade"


E esses são apenas alguns dos acontecimentos que marcaram o Breve Século XX, de Eric J. Hobsbawm.

Por Priscila Pacheco


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